PALAVRAS DE SEDA

Escrever passou a ser necessidade diária, como a respiração mantém o corpo vivo, o ato de escrever mantém minha alma solta para trafegar pelo mundo dos sonhos.
Ao me deixar levar pelas palavras visualizei novo horizonte e criei asas. Voei.
Em vinte anos escrevi dezenove livros em vários estilos: conto, crônica, poesia, romance e biografias.
Alguns de meus livros biográficos foram livremente inspirados para o cinema e TV. Ganharam prêmios.
O importante é continuar escrevendo, registrando histórias e estórias para que a memória não se perca no mundo digital.
De tanto escrever biografias resolvi deixar o registrado meu ensaio biográfico cujo viés é meu Anjo da Guarda. Pode parecer um pouco estranho, porém é bem real. Por isso, acesse também o meu blog "Os Anjos não envelhecem", eu disponibilizei meu livro na íntegra, onde constam fotografias e documentos. O livro físico está esgotado.
Viaje através das palavras. Bem-vindo (a).

















































































































sexta-feira, 25 de junho de 2010

FOLHAS AO VENTO

Não se espantem meus amigos, se nessa página de rosto de meu blog há muitas folhas ao vento.
Tenho especial admiração pelas folhas, ainda mais pela folha de plátano. Ela é especial para mim. Nascida no Vale do Sapucaí, sempre admirei essa árvore, que intensamente pontua as estações, um espetáculo para meus olhos infantis. Por ela eu sempre sei o mês em que estamos, só de vislumbrar a coloração de suas folhas. Sendo mais significativo o outono, período em que pipocam as folhas amarelas e rubras, e aos poucos, despencam, atapetando o solo. Outono... época de meu aniversário, sempre acho que o cair dessas folhas é um presente da natureza, só para mim!... uma idéia lúdica, que me persegue até hoje. Cada folha caindo eu a visualizo como palavra solta ao vento.

Às vezes escrevia nas folhas e as guardava em livros, ainda hoje as tenho, secas, esfareladas e sem cor, mas repletas de sentimentos, marcando páginas amareladas que nortearam minha vida. Sempre escritas e acondicionadas no próprio lugar da colheita, é que de tanto conviver com essas folhas aprendi que ao transportá-las para região mais quente, em questão de minutos elas enrugam, secam e quebram-se todinhas. Num processo temperamental de procura de raízes. Cresci com a magia de um caderno cheio de folhas escritas. Uma obra da natureza com algumas anotações feitas por mim. Cultuei esse amor às folhas, na verdade, ainda o cultuo fisicamente e digitalmente, como podem ver aqui no blog.
Por isso, a capa de um dos meus livros de poesias tinha como fator preponderante a imagem de uma folha de plátano. E, assim foi feito! Um agradecimento meu à mãe natureza. Só não sabia que ela iria me retribuir com tanto esmero. Na ocasião de minha ida à linda Buenos Aires (2008), numa quinta feira de outono, em plena Praça Del Mayo, junto com as Mães que há tanto tempo choram pelos seus filhos sumidos durante a ditadura argentina, tive o privilégio de fazer com elas a passeata onde, até hoje, o silencio é a voz do protesto. Quietas, segurando uma faixa, circulamos a praça onde estão pintadas no chão várias imagens de véus brancos, símbolo da luta dessas Mães. O momento foi mágico, uma brisa leve passeou pelas árvores, chacoalhou os galhos, balançou as folhas que foram caindo devagar.
Meus olhos ficaram mareados pela emoção, coração aos pulos, ao ver uma chuva de folhas de plátanos abençoando o momento. Bailavam entre o Céu e a Terra, numa linda coreografia... demoraram a cair. Terminando a passeata, o chão da praça era um tapete de folhas. Fui com as Mães até as bancas onde conversam sobre suas dores, cada uma com a foto de seu filho desaparecido. Em cima da bancada, meu livro Retalhos de Outono fazia presença, uma folha de plátino, onde escrevi um poema-desabafo para as Mães da Praça de Mayo. Li o poema para elas, novamente folhas vieram com o vento, uma caiu em cima do livro.
Foi essa comunhão com a natureza que me fez ver que algumas coisas praticadas durante tantos anos com simplicidade e afeição tornam-se cúmplices de uma felicidade sem preço. Esse momento está presente a cada dia, em cada folha que vejo nas árvores, no chão ou em meus livros.


Rita Elisa Seda
Jornalista, romancista, cronista, poeta, biógrafa e fotógrafa.

7 comentários:

Silvinh@ disse...

Oi,Rita Elisa!!!
Que lindo tudo isso!!!
Com certeza um Momento muiiiiiiiiito Mágico!!! Que experiência extraordinária!!!
Sabe que a cada dia que leio um artigo seu, minha admiração por você aumenta...É verdade!!!
Acho que você conquistou mais uma leitora de seus livros...Sinto que terei de adquirir todos seus livros...rsrsrsrsrsrsrsrsrs
Beijos!

Rita Elisa Seda disse...

Foi mesmo Silvinha... tanto que só agora consegui colocá-lo no papel digital! Beijos para você minha querida amiga.

Newdelia disse...

Olá, Rita, como vai?
Adorei mesmo. Lindíssimo o texto "A Criança e Deus".
Quando recebi no bar que citei, não havia o nome do autor, mas fiz questão de procurar antes na net.
Que bom que acertei a fonte.
Parabéns pelo texto, pelo belíssimo blog e muito obrigada por sua visita. Espero que volte mais vezes e quando vier a Ribeirão, se tiver um tempinho, me ligue será um enorme prazer conhecê-la.

Beijos.

Fone: 16 - 3236-1146
E-mail: newdelia@gmail.com

Rita Elisa Seda disse...

Pode ter certeza que logo logo estarei te ligando, pois ainda em julho irei a Goiás e passarei em Ribeirão. Vou ficar de olho no seu blog. Felicidades e a paz!

Jaime Baiao disse...

Essas folhas, palavras, sementes...
Bonito, muito bonito.

Inajá Martins de Almeida disse...

Querida Rita
Li um dia, não sei bem aonde, que se um escritor consegue prender a atenção do leitor durante dois minutos, ele terá ganho o mesmo para a obra toda. É o que vem acontecendo nesses últimos dias, desde que ganhei o livro várias vezes mencionado - Cora Coralina - agora seus textos tem me chamado, tem me tocado, tem me encontrado, tem lido meu interior, tem me escrito. Há muitos pontos em comum entre nós: folhas, árvores, retalhos, palavras, livros, leituras, poemas, crônicas e aí a fora, mas o olhar dessas mães, conseguiu gritar fundo meu peito. A emoção atingiu seu ápice. Tenho um poema escrito que me toca muito - Mulheres Sunamitas; está no meu blog http://momentodeler.blogspot.com
embora escrito por mim, sempre me emociono quando o releio. Rita que Deus a cubra de bençãos cada vez mais, desta que já é sua fã incondicional. Quem sabe um dia possamos nos encontrar pessoalmente. Atualmente resido em São Carlos. Um forte abraço com carinho / Inajá

Rita Elisa Seda disse...

Querida Inajá, esses nossos pontos comungam nossa existência, somos irmãs de alma, aposto que você coloca folha para secar entre as páginas de um livro, também deve de deixar uma flor, ou pétala de rosa, secando entre palavras impressas. Isso é nossa maneira de aglutinar valores, de armazenar lembranças e de saber onde achá-las quando a quisermos de volta. Acho que, o melhor, é quando as encontramos sem esperar, algo tão bem guardado e há tanto tempo que ao encontrá-la nossa alma se depara com a plena alegria da vida. Beijos, felicidades e a paz!