PALAVRAS DE SEDA

Escrever passou a ser necessidade diária, como a respiração mantém o corpo vivo, o ato de escrever mantém minha alma solta para trafegar pelo mundo dos sonhos.
Ao me deixar levar pelas palavras visualizei novo horizonte e criei asas. Voei.
Em vinte anos escrevi dezenove livros em vários estilos: conto, crônica, poesia, romance e biografias.
Alguns de meus livros biográficos foram livremente inspirados para o cinema e TV. Ganharam prêmios.
O importante é continuar escrevendo, registrando histórias e estórias para que a memória não se perca no mundo digital.
De tanto escrever biografias resolvi deixar o registrado meu ensaio biográfico cujo viés é meu Anjo da Guarda. Pode parecer um pouco estranho, porém é bem real. Por isso, acesse também o meu blog "Os Anjos não envelhecem", eu disponibilizei meu livro na íntegra, onde constam fotografias e documentos. O livro físico está esgotado.
Viaje através das palavras. Bem-vindo (a).

















































































































domingo, 8 de agosto de 2010

ÁGUA EM LUCAPA

Atualmente muito se fala sobre a água. É tema para qualquer conversa. Seja em grupo de amigos, na escola, em casa ou na rua. São duas questões fundamentais: a falta e o excesso de água. Falta porque há lugares onde o deserto se alastra; excesso porque as chuvas torrenciais alagam tudo. Na verdade o volume de água é, foi e (tomara Deus) sempre será o mesmo. Só que agora há uma demanda diferenciada na ordem natural das ações pluviais... grande concentração de água em alguns locais e nenhuma em outros.
Vejo a realidade em Lucapa – África. Lá a água é artigo de luxo. Não há esbanjamento. Na verdade podemos dizer que é uma raridade. Há poucos meses houve a perfuração de um poço comunitário para o consumo de água. O solo é arenoso e foi preciso que a sonda atingisse um lençol freático há 140 metros de profundidade. Depois de muito custo veio a tão sonhada água, para a alegria dos cidadãos lucapenses.
Mas, vejam bem... sai pouca água da torneira. E, algumas vezes, ela se esvai e caem somente algumas gotinhas. Benvindos pingos. Não importa. A alegria é geral. Mulheres, jovens e crianças munidas de latas, bacias e tambores fazem fila para encher seus vasilhames. Mesmo que isso demore horas, todos sorriem, estão satisfeitos. Antes tinham de andar quilômetros até a fonte d’água mais próxima para levar o tão desejado líquido. Agora há uma torneira na cidade... e dela sai água. Isso é garantia de comida saudável, limpeza corporal e mitigar a sede.
A água para eles é fator predominante. Aliás... para nós também! Tente fechar o registro e as torneiras de sua casa e ficar alguns dias sem água. Isso não vai acontecer, você sabe que tem água, basta abrir o registro - é claro que vai abri-lo; afinal... não conseguimos conviver com a falta d’água. Mas os lucapenses ficavam conviveram com a falta d’água durante muitos anos. Gerações e gerações andaram pelas estradas levando seus utensílios à procura do precioso líquido. Quando a encontravam, lavam seus pertences, a mandioca do almoço e do jantar e colocavam um pano enrolado na cabeça e, em cima do pano, a vasilha com água e mandioca. Iam para suas casas, satisfeitos. Não pesava. A satisfação era maior, não se queixavam em levar a preciosa carga. Tanto os adultos, os jovens ou as crianças se colocavam nesse empenho.
E, agora, a água está ali, num poço acessível, em plena cidade. Satisfeitos conversam e sorriem. Arrumam seus panos no alto da cabeça. Ficam na fila. Aguardam o tempo que for necessário para encher os potes. Depois os equilibram até suas casas. Um ato de amor. Tanto é assim que uma criança se olha numa poça d’água, como se olhasse num espelho. Uma poça que se formou por causa da grande quantidade de água armazenada nas enormes vasilhas que, agora, tentam equilibrar, e sempre derrubam um pouco no chão. Enchem demais os potes, pois o caminho entre a água e a casa ficou curto. E a criança ficou um tempo ali, se olhando no espelho. E depois, numa resposta cognitiva, ela pegou sua latinha e a colocou na cabeça, imitando os pais... renovando um paradigma de muitos anos, séculos mesmo. Colocar a lata d’água na cabeça.
E, nós?!... por que desperdiçamos esse bem natural?! Talvez pela falta de visão, por não conhecer regiões como a de Lucapa. Por sermos criados lavando carro e passeio com jatos d’água. Somos abençoados?! Somos, sim... Enquanto isso a humanidade deixa o planeta doente e gera um desequilíbrio catastrófico onde regiões desfavorecidas lutam por um gole d’água e outras ficam encharcadas por todos os lados.
Rita Elisa Seda
Cronista, poeta, biógrafa, fotógrafa e jornalista.
Crônica publicada no jornal Visão Vale em agosto de 2009. www.visaovale.blogspot.com www.livroretalhosdeoutono.blogspot.com

3 comentários:

Nilza Pelayo disse...

Oi Rita, obrigada por entrar como seguidora do meu Blog, fiquei encantada com seus textos...maravilhosos!
E pensar que esbanjamos tanta àgua, enquanto uns sofrem tanto por falta dela! Muito bom para parar e refletirmos um pouco sobre o gasto muitas vezes desnecessário, como vc citou as lavangens de carro na Rua por nós brasileiros.
Abraços e Sucesso!

Rita Elisa Seda disse...

Oi Nilza, foi um prazer passear pelas páginas de seu blog. Nossa realidade é muito diferente do quotidiano desses lucapenses, e não pense que eles são carrancudos e tristes, vivem sorrindo e cantando com 'tudo' o que têm. Diferente de alguns que, com tanta coisa, vivem tristes achando que nada possuem. Na verdade o que temos de maior valor é a alegria de viver! Isso não tem preço. Beijos e benvinda!

Anônimo disse...

Rita parabéns por abraçar uma causa mais do que justa. Beijos da família Pires.