PALAVRAS DE SEDA

Escrever passou a ser necessidade diária, como a respiração mantém o corpo vivo, o ato de escrever mantém minha alma solta para trafegar pelo mundo dos sonhos.
Ao me deixar levar pelas palavras visualizei novo horizonte e criei asas. Voei.
Em vinte anos escrevi dezenove livros em vários estilos: conto, crônica, poesia, romance e biografias.
Alguns de meus livros biográficos foram livremente inspirados para o cinema e TV. Ganharam prêmios.
O importante é continuar escrevendo, registrando histórias e estórias para que a memória não se perca no mundo digital.
De tanto escrever biografias resolvi deixar o registrado meu ensaio biográfico cujo viés é meu Anjo da Guarda. Pode parecer um pouco estranho, porém é bem real. Por isso, acesse também o meu blog "Os Anjos não envelhecem", eu disponibilizei meu livro na íntegra, onde constam fotografias e documentos. O livro físico está esgotado.
Viaje através das palavras. Bem-vindo (a).

















































































































sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

GOTAS DE PAZ



Ontem escutei uma frase excelente: "às vezes é preciso chorar todas as lágrimas para que nasça no coração o sorriso da paz!"

Foi com lágrimas que respondi a um email de Benilson Toniolo, meu amigo poeta que mora em Campos do Jordão, a respeito da catástrofe que as chuvas estão fazendo no Rio de Janeiro, Minas Gerais, São Paulo e Goiás. Ele hoje me respondeu com essa comovente crônica. Benilson tem uma maneira ímpar de escrever. Como se cada fato citado fosse uma gota de chuva... uma chuva diferente, que traz a paz!
Obrigada, querido poeta.

Rita Elisa Seda
Cronista, poeta, biógrafa, fotógrafa e jornalista.


Continua a chover nas regiões afetadas. Nenhum contato com SB. A médica legista passou mal ao cumprir sua tarefa junto aos corpos, e precisou ser retirada do local pelo Resgate. Caminhões frigoríficos foram enviados para acondicionamento dos cadáveres, que a esta altura já somam quinhentos e vinte e nove – sem contar aí, evidentemente, os que ainda não foram localizados. Há relatos, em Nova Friburgo, de corpos arrastados à cidade vizinha. Nos telejornais, discussões sobre porcentagens, repasse de verbas -valores milionários que deveriam ser usados na prevenção e não foram, ou foram, mas de forma inadequada. Trocam-se acusações, cópias de documentos, indícios de favorecimentos, culpam-se a burocracia, a falta de projetos, a falta de educação do povo e o fato de que as pessoas insistem em permanecer vivas, contrariando a ordem natural das coisas. Aos poucos, os olhos das pessoas vão se habituando à tragédia e achando que, afinal de contas, esse negócio de morrer gente em deslizamento é assim mesmo. Ou avisam aos que estão na sala: “me avisa a hora em que começar a novela”. Rita Elisa Seda sofre por Goiás Velho, e amplia minha agonia. Carolina Ramos chora, fala de Luiz Otavio e da praça em Nova Friburgo dedicada à trova. Edson Bueno de Camargo pede notícias de SB. Leitores e amigos mandam comentários, considerações ambientais, sociais e geográficas. Em todos, entretanto, reside a mesma indignação com a falta de estrutura a que estamos relegados. Não, nós não somos tratados como gado. Simplesmente, não somos tratados. Xuxa foi despejada por falta de pagamento. Ganso não admite ganhar menos que quinhentos mil reais por mês, e reclama de não ser valorizado como merece. Ronaldinho Gaucho assina seu contrato em uma churrascaria e -por falar em carne- o participante transexual do Big Brother causa furor entre os telespectadores. Então, é assim: carne no jornal (morta, em Friburgo), carne na novela (viva, entre lençóis e italianos dementes) e carne exposta antes de dormir, no Big Brother –mais uma praga mundial, que bestializa a inteligência humana e relega muitos de nós à condição de pseudo-onanistas insanos. No poetry, por estes dias.
                                         

                                                 Benilson Toniolo
Poeta, cronista, pertence à Academia Jordanense de Letras.
www.blogdobenilson.blogspot.com


Recebi da Norália essa crônica, onde ela exprime o antogonismo de nossos sentimentos, atualmente, ao vermos a chuva chegando.

A chuva é bela!
Hoje, amanheceu com sol e algumas nuvens no céu. Dia quente e lindo. De tardinha, caiu um pé d’água, daqueles com trovões, raios e vento. Veio do Leste e passou por minha casa na direção do Sul. Tive de desligar todas as tomadas preventivamente. Diante de tal chuva, a gente não sabe o que pode acontecer com a eletricidade.

Fui então para minha janela, acompanhar a chuva que caía torrencialmente.

- Como a chuva é bela! – foi o pensamento ao vê-la cair maciamente sobre aquele tapete verde de árvores, plantas e gramas.

Os trovões e raios estavam muito distantes, lá em cima nas nuvens negras. Por toda a extensão, o verde maravilhoso. As montanhas ao longe estavam esplendorosas. As colinas mais ainda. As árvores, mais próximas de mim, se alegravam com a água que as acariciava. A chuva caía tão maciamente sobre aquele tapete verde que me esqueci dos trovões. (tenho pavor de trovões!).

- Como a chuva é bela!

Senti, por assim pensar, que estava cometendo o maior pecado mortal, me esquecendo, naquele momento, do horror que vivem na Região Serrana do Rio. Lá, o buraco negro incomensurável de sofrimentos: perdas, mortes, pestes chegando, milhares de pessoas sem casa, deslizamentos, desamparo, terror e horror de mortes, doenças, fome, e toda a região – a maravilhosa região serrana – decomposta, perdida. Há dias, o horror se instalou no nosso País, e eu, aqui, admirando a chuva:

- Como a chuva é bela!

A Mãe Terra dá seu alerta. Os céus clamam. A Natureza chora.

Homens e mulheres choram.

A Mãe Terra é a nossa casa no Cosmo. Somos parte integrante dela. Somos seus filhos e, como filhos desobedientes, estamos apanhando para aprender: a Dor se instalou lá e cá, em mim, ao lembrar-me das reportagens que tenho assistido.

O que urge é que não haja mais inundações de seres humanos, que se deixam conduzir por enxurradas das fomes, situando-se às beiras de rios e colinas, fragilizadas por lixos. Que não transitem sem abrigo ou teto, ao léu, sem saber onde e como se portarem como gente. Que a ambição desmedida não predomine nas ações para o endinheiramento acerbado. Que acariciem a Mãe Terra como filho amado e amante, não como pretensos senhores superiores às regras naturais que são ditadas pela Natureza, fazendo-a escrava de sua pseudo-sabedoria superior. Que olhem para a Mãe Terra, que nos dá tanta beleza e acolhimento, como Ser que precisa de amor e respeito. Que, como toda a Lei que rege a Natureza, somos perecíveis também. Que o nosso tempo se esgotará fatalmente. Mas, que chegue para todos com dignidade, não soterrados por deslizamentos provocados por atitudes desmedidas e irracionais de outros semelhantes.

- Como a chuva é bela!

Se bem recebida sob um teto/lar. E que, neste momento de Dor Maior, o amor solidário predomine nos corações e nas ações de socorro. Que a solidariedade seja mais duradoura e que se expanda: que não seja apenas num momento de grande comoção nacional!

Norália
Brumas, 18 de janeiro de 2011, 22h14

                                                         
Norália de Mello Castro
Cronista, poeta, pertence à REBRA.

6 comentários:

Inajá Martins de Almeida disse...

Rita minha querida amiga
Realmente sofremos por todos os lados com notícias que nos chegam.
Preocupo-me com regiões lindas do Brasil, mas que estão sendo devastadas.
Penso em tua bela cidade, quando o noticiário nos chega dizendo que as previsões não são satisfatórias.
Campos do Jordão, Rio de Janeiro, Minas Gerais e aí vai a lista engrossando.
Aqui em São Carlos, tem chovido bastante, mas há tréguas em que o sol aparece forte e revigorante.
As águas são benéficas às plantas, a vida, ao rejuvenescimento da natureza, mas também pode acarretar tantos dissabores como os temos acompanhado recentemente.
Bom o texto e o grito de Benilson.
Não podemos sufocar nossos corações.
(continua)

Inajá Martins de Almeida disse...

Nesta manhã publiquei um texto no site Texto Livre - É um local onde posso extravasar, vez ou outra, as palavras que gritam dentro de mim.
Intitulei-o ATÉ QUANDO, pois é assim que me sinto... porque:

Tenho sido afetada por tanta tristeza que nos chegam através dos meios de comunicação.

Tenho chorado com os que choram.

Tenho acompanhado o sofrimento dos que sofrem.

Impassiva, nada posso fazer apenas orar e chorar em silêncio, tanta amargura, tanto sofrimento, tanta resignação, tanta esperança, tanta... tanta....

Aí me pergunto, como fazia o profeta Habacuque em sua torre de vigia:

"Até quando...?"

Até quando seremos tratados como números, num sistema em que as obrigações nos são impostas todos os dias, em detrimento a nossos direitos: desrespeitados, ignorados, desprezados, e por aí a lista cresce?

Até quando nossas necessidades primárias – moradia, saúde, educação e cultura – serão relegadas ao descaso por parte das autoridades competentes?

Até quando ostentaremos o jargão de culpados ante ao local que escolhemos para morar, os nomes que indicamos para nos representar nas câmaras municipais, estaduais e federais, no senado e na própria presidência da nossa nação?

Nossa liberdade à expressão está sendo colocada á berlinda de forma subentendida, mas não nos damos conta; logo mais nosso direito será apenas o de ficar calado.

Até quando...?

http://textolivre.com.br/cr%C3%B4nicas/34117-ate-quando

Unknown disse...

Rita, não gosto de pensar no que está acontecendo, mas é preciso! Separei roupas e utensílios para doar, levei ao posto de coleta mas parece tão pouco o que podemos fazer... Quem deveria fazer algo agora, está procurando "culpados" para tudo isso, não é mesmo? E como o amigo Benilson diz, enquanto seres humanos são lançados à lama literalmente, as pessoas estão preocupadas com o horário da novela, com as polêmicas do BBB, que pra mim, só deixa o povo cada vez mais "abestado", eu não assisto mas, como todos à minha volta só falam nisso, nem é preciso assistir para saber o que está "rolando",apesar de não fazer questão alguma de saber. Enquanto muitos estão de "chinelos de pelúcia", os nossos irmãos estão com a vida na lama! É dormente, é inimaginável tanta dor! É preciso falar, é preciso que alguém nos ouça!
Abraço.

Rita Elisa Seda disse...

Querida Inajá, sofremos sim, mas precisamos fazer alguma coisa em relação ao descaso público. Se em todas cidades houvessem um alerta máximo exigindo que as famílias saíssem de suas casas, seria ótimo, como foi na cidade onde a populaçaõ foi avisada através de um sistema de alto falante em carro que patrulhou a localidade. É preciso que exista uma legislação que obrigue atitudes como essa. Beijos, felicidades e a paz!

Rita Elisa Seda disse...

Sônya, cada um fazendo sua parte, seja ela grande ou pequena vale pela força da união, da solidariedade e do amor. Doação não tem limites e nem exige porcentagem, doação é desde uma palavra até milhões de reais. Mas, veja que, uma palavra fica para sempre no coração da pessoa, milhoes de reais a água leva com a enxurrada. Beijos, felicidades e a paz!

Inajá Martins de Almeida disse...

Rita amiga querida
Não é para criar polêmica num momento tão triste e enlutado em nossa nação, mas o descaso é muito grande.
Aqui, na cidade que resido, São Carlos, é possível ver situação em que a prevenção é quase que inexistente.
Há poucos meses coloquei em meu blog o antes e o depois, quando a paisagem aparece toda exuberante, as flores amarelas, depois a queimada devastadora (http://saocarlosemimagens.blogspot.com/2010/07/flores-amarelas-silvestres-em-sao.html).
Fiz um alerta público, comuniquei as autoridades locais, inclusive um vereador é fitoterapeuta e secretário do meio ambiente, porém, a cidade se encontra em crise.
Os córregos repletos de lixo e mato, incorrendo em sérios contratempos nessa época de chuva pesada.
Ontem mesmo, após um período de grossas águas, os córregos que recortam a cidade transbordaram, alagando avenidas e causando alguns danos que, senão de consequências traumáticas, poderiam sê-lo.
Sim Rita, até quando seremos assolados por tanto descaso.
Até quando nosso grito não será ouvido.
Mas, enquanto o até quando não chega, continuamos clamando.
Um beijo e até mais.