Fomentar a violência só traz miséria, destruição, doença, rancor e morte. Acho que não deveria existir em toda Terra fábricas com poderia bélico, desde a mais simples espingardinha de chumbo até a mais sofisticada bomba atômica. Não estou falando à toa! Pensei muito antes de me colocar e de publicar esse meu texto, é que algumas pessoas não vão entender, mas, espero que, a maioria entenda.
Vou conjecturar sobre dois aspectos relacionados com o pronunciamento de nosso presidente. O primeiro é esse dele não concordar com o que assinou. Enquanto forçado a assinar pela paz, vale e muito, mesmo que tenha perdido um bom dinheiro em exportação. Se podemos tirar o dedo do gatilho é melhor fazê-lo enquanto é tempo. Depois, custa caro demais, custa vida humana.
Na região de Lucapa (Angola) há muita alegria, danças, festas, religiosidade e culinária diferente, como publiquei em vários jornais do Vale do Paraíba e agora aqui nesse blog. Mas, também há dor. Muita dor. Os lucapenses andam por trilhas traçadas no mato, não desviam nem para a direita nem para a esquerda. As crianças nem podem brincar muito longe de casa e, às vezes, nem perto.
Essas fotos que coloco hoje no blog são de uma seriedade tamanha que só as publico para que possamos refletir até onde podem chegar atos de guerrilha, mesmo depois dela acabada. São fotografias tiradas há pouco tempo, mostram uma realidade brutal.
Em toda Angola há minas terrestres, morteiros e urutus, restos de guerra. As minas e os morteiros quando encontradas são desativadas por um esquadrão anti-bomba, os urutus foram incendiados. Os 38 anos de guerra produziram milhões de tragédias no país: 2 milhões de mortos, 1,7 milhão de refugiados, milhares de órfãos, 200 pessoas mortas de fome por dia, milhares de crianças, velhos, homens e mulheres mutilados pelas milhões de minas semeadas pelo país afora. Em Angola, são milhões de tragédias, cada qual com um nome e uma história de final infeliz. Eles estão em toda parte. Incompletos. São 80 mil mutilados, homens, mulheres, velhos e crianças, arrastando muletas e o que lhes restou das pernas pelas cidades, aldeias e campos de refugiados de um dos países mais minados do mundo. Angola tem 11 milhões de habitantes e, também, 11 milhões de minas semeadas ao longo de quase quatro décadas de guerra, deixando uma mina à espera de cada angolano.
Esquadrão anti-bomba procurando minas e morteiros...
há dois morteiros no solo, embaixo dos arbustos...
colocam os dispositivos para a desativação dos morteiros... e os explodem!...
acharam uma mina terrestre no lugar mais improvável... no meio do caminho, na trilha onde todos passam...
com a área isolada e todos em lugar seguro, explodem a mina...
Mas, olhe bem... a mina estava bem no meio do caminho...
agora o pior... acharam uma mina no quintal de uma casa... isso mesmo...
aprontam para a detonação...
com toda a segurança, colocam os dispositivos...
explodem a mina, com toda a segurança!
ficou o buraco...
a população local é chamada para uma conscientização sobre o perigo das minas terrestres!
O novo governo angolano ( há poucos anos pela primeira vez houve eleições democráticas em Angola), em parceria com empresas privadas, está detectando e eliminando as minas terrestres e os morteiros com a ajuda de esquadrão anti-bomba.
Mas, não é fácil achar uma mina. Na região de Lucapa, elas aparecem assim do nada, até mesmo no quintal de uma casa. Parece que emergem da terra. Um passo em falso e, adeus perna, isso sendo otimista, para não dizer adeus ser humano. Ainda mais quando se trata de criança.
Detectar uma mina, preparar para ser explodida de uma forma segura é mesmo difícil. Todo cuidado é pouco. A área tem de ser isolada, a dinamite bem segura, o fio bem grudado e comprido, o detonador preciso. Agilidade e segurança são fatores preponderantes nesse processo.
Depois de todo acontecimento, vistoriado pelos olhos dos lucapenses, ao longe, são chamados para uma explicação sobre os cuidados que devem tomar ao andar fora de casa, na realidade devem andar somente nas trilhas e nas áreas onde as minas foram rastreadas e desativadas. Mesmo assim, há riscos.
O que mais me dói em tudo isso é saber que boa parte dessas armas bélicas são produtos brasileiros. Por isso meu segundo momento é dizer ao presidente que ele, além de dar asilo à iraniana Sakineh Mohammadi Ashtiani, condenada à morte por adultério, deve dar asilo a todos angolanos que foram vitimados na guerrilha, já que a Engesa do Brasil fomentou esse combate. Lendo uma reportagem assinada por Claudio Dantas Sequeira, publicada na revista IstoÉ (2010), segundo o professor do Núcleo de Estudos Estratégicos da Unicamp, o coronel reformado Geraldo Cavagnari avalia que a reedição da marca Engesa faz parte das ações para "revitalizar a indústria de defesa brasileira e ingressar em níveis tecnológicos mais elevados". Cavagnari lembra que a Engesa construiu um mercado amplo e chegou a exportar para a África e o Oriente Médio, como os casos de Angola, Líbia e Iraque. Embora seus produtos mais conhecidos sejam os blindados Urutu e Cascavel, a Engesa se transformou num poderoso grupo de produtos bélicos. Não posso deixar passar a nota que foi colocada no rodapé da reportagem online: NOTA DO CONTRAPONTO!: Tem gente que bate no peito, com orgulho: "O Brasil é um dos maiores fabricantes de armas de guerra!!!" Outros lamentam. Os leitores dessa reportagem deixaram seus comentários, os quais, faço questão de expor (sem revisão, na íntegra):
5 comentários para A volta da Engesa: O Brasil que produz armas de guerra• MARCELO
fevereiro 18th, 2010 em 21:04
Eu bato no peito. Com orgulho sim. É uma pena não exportar armas nucleares.
• sidnei
fevereiro 27th, 2010 em 14:08
ta na hora deste pais se mexer e mostrar que não é apenas grande mas tambem poderoso.
• marcio
maio 19th, 2010 em 19:51
O BRASIL é uma potência mundial, se não exportassemos alimento para o resto do planeta por um mês, os que se intitulam primeiro mundo ficaria com muito medo, Se houver mais insentivo serio à pesquisa como a do biocombustivel(alcool e biodiesel)Os maiores produtores de petroleo seria uma pulha, pois seriamos autosustentaveis sem muito esforço. E para que haja defesa de tanto potêncial, acho otimo que o Brasil volte a produzir armas de guerra de ultima gerasão.
• Mauricio
maio 28th, 2010 em 17:49
Lembro-me bem da epoca da ENGESA e como nosso pais era respeitado la fora, esta na hora de acordar e mostrar nossa capacidade. Demorou.
• luiz monteiro
julho 2nd, 2010 em 21:22
Não bato no peito, pois ainda somos aproveitadores de sucatas caras dos EUA, UE e outros. Um país enorme e cheio de aparencia e fantasias misturado a mentiras e engano, onde não constrói seus próprios ativos por não valorizar e investir nos seus engenheiros e cientistas. Porque a plataforma de lançamentos de foguetes na barreira do inferno explodiu? psiu bico calado.
crianças lucapenses que só andam nas trilhas...
Bem, gente... talvez o nosso Planeta precise de um pouco de PAZ, talvez as pessoas que amam a guerra e acham que através dela há respeito precisem ir a Lucapa e caminhar ‘sem medo’ pelas sarobas na beira da estrada.
O que eu podia fazer, estou fazendo, mais que isso só dando uma passagem para que nosso governante faça companhia aos lucapenses que, às vezes, teimam em andar fora das trilhas.
Rita Elisa Seda
Cronista, poeta, biógrafa, fotógrafa e jornalista.
2 comentários:
Não se pode obter a Vida com a indústria da morte nem se consegue a paz com o uso da força.
Paz armada Hitler tentou faz muito tempo.
A paz não é ausencia da guerra mas uma proposta de vida
Obrigada pela maravilhosa frase "A paz não é ausencia de guerra, mas uma proposta de vida", pois são poucos que assim pensam. A maioria acha que é pela guerra que se consegue a paz! Acho que a globalização fez com qua a palavra "competição" ficasse desgastada em "destruição"!
Beijos, felicidades e a paz!
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