PALAVRAS DE SEDA

Escrever passou a ser necessidade diária, como a respiração mantém o corpo vivo, o ato de escrever mantém minha alma solta para trafegar pelo mundo dos sonhos.
Ao me deixar levar pelas palavras visualizei novo horizonte e criei asas. Voei.
Em vinte anos escrevi dezenove livros em vários estilos: conto, crônica, poesia, romance e biografias.
Alguns de meus livros biográficos foram livremente inspirados para o cinema e TV. Ganharam prêmios.
O importante é continuar escrevendo, registrando histórias e estórias para que a memória não se perca no mundo digital.
De tanto escrever biografias resolvi deixar o registrado meu ensaio biográfico cujo viés é meu Anjo da Guarda. Pode parecer um pouco estranho, porém é bem real. Por isso, acesse também o meu blog "Os Anjos não envelhecem", eu disponibilizei meu livro na íntegra, onde constam fotografias e documentos. O livro físico está esgotado.
Viaje através das palavras. Bem-vindo (a).

















































































































quarta-feira, 10 de junho de 2020

NHÁ CHICA A MÃE DOS POBRES


 

    

    O livro “Nhá Chica a mãe dos Pobres” traz novos documentos que foram encontrados recentemente. Foi em 2015, depois de dois anos da beatificação de Francisca de Paula de Jesus – Nhá Chica, que o advogado, historiador e pesquisador de Caxambú, Antônio Claret Maciel Santos encontrou no acervo da paróquia de Santa Maria de Baependi, o Livro de Óbitos da Igreja Nossa Senhora do Montserrat, relativo ao período de outubro de 1841 a maio de 1869, folha 4, onde consta o óbito e testamento de Izabel Maria da Silva – mãe da Nhá Chica.
Na época, o vigário Interino, Julião Carlos Rangel da Silva fez o assento do documento e assinou. Ele escreveu que no primeiro dia do mês de novembro de 1843, Izabel Maria da Silva, parda, solteira recebeu os sacramentos e faleceu com febre.
    Precisamos entender a questão de como eram categorizados e denominados as questões raciais no Brasil da época. No artigo “Escravidão e Cor nos Censos de Porto Seguro Feliz (São Paulo, Século XIX)" escrito pelo dr. Roberto Guedes, doutor em História Scial pela UFRJ, professor do Departamento de História e Economia da UFRural-RJ, publicado nos Anais do  XXVI Simpósio Nacional de História - ANPUH, São Paulo, em julho de 2011;  explica que  “nos mapas de população da vila, classificam-se brancos, pardos, mulatos e pretos livres, isto é, pardos livres, pretos livres e mulatos livres” e que essa avaliação era feita por responsável das listas e dos mapas, mas não invalidava a ideia de haver um critério pontual e outro genérico, bem como uma correspondência entre preto e negro, de um lado, e pardo e mulato, de outro; sendo o pardo mais claro que o mulato. 
    Dr. Roberto Guedes diz que: de qualquer modo, tudo indica uma caracterização pontual e personalizada nas listas uma vez que mesmas pessoas/famílias frequentemente mudavam de cor. Em 1803, Alexandre de Madureira e sua esposa Inácia Maria eram negroa, mas em 1808, ambos eram pardos. Antônio de Pontes e sua esposa, Beatriz Maria eram mulatos em 1813 e negros em 1818. Não sei porque enegreceram, mas nunca foram pardos. Outro que mudou de cor foi Antônio Gonçalves. Em 1803, 1808 e 1818, eram brancos. Geralmente, quando a cor do chefe do domicílio se modificava, as de seus parentes, filhos, cônjuges, seguiam-na. Provavelmente, a alterações das cores reforce a possibilidade de os recenseadores lançarem mão de um critério pontual dirigido a determinadas pessoas em certas situações (no que as relações pessoais podiam interferir), bem como remete ao lugar social conforme as circunstâncias sociais."
    Então o vigário que escreveu o assento de óbito da Nhá Chica denominou Izabel Maria da Silva de “parda”.
    Outra questão é a fotografia que reproduzi do livro “Nhá Chica a pérola escondida”, de frei Jacintho Palazzolo; historiador que nos deixou importantes obras como: “História da cidade de São Fidélis: 1781-1963”. O religioso ao publicar a fotografia deu-lhe todas as referências, ele a recebeu de Adolfina Noronha de Figueiredo Pelúcio, viúva do historiador José Alberto Pelúcio, que no verso da imagem escreveu: “Francisca de Paula (Nhá Chica) ainda relativamente moça.” Pelúcio é de Baependi, escreveu a obra “Baependi templos e crentes”, tinha ética em suas publicações e ainda mais no que escrevia, não podemos dizer que ele errou ao referenciar a foto.
    Mas ficou a questão qual é essa época em que Francisca de Paula era relativamente moça? Se a mãe dela faleceu em 1843,ela poderia ter de 33 (no Registro Tardio consta o ano de 1810 – batizado de Nhá Chica) a 35 anos... ou até mais. Eu coloquei no livro, na página 28, que “talvez” esse retrato seja de quando ela tinha 35 anos, por causa da influência de seu irmão Theotônio no comércio, política e religião em Baependi. Na verdade não sabemos a época, por isso não dei certeza, levando em conta que em 1843 faleceu a mãe de Nhá Chica e então ela resolveu mudar-se para a Rua das Cavalhadas e fazer seu voto de pobreza. O meu talvez é porque essa fotografia pode ser dela com mais idade, até mesmo 40 ou 50 anos. 
    Outra questão é que na fotografia ela aparece com a tez mais clara do que atualmente as pessoas esperam. Podemos levar em conta que uma chapa fotográfica (pesava 8 quilos na época, meados do século XIX) tinha de ser um registro bem feito, não foi ao ar livre e para isso o tempo de exposição era maior, e podia deixar a pessoa mais clara, pois entrava mais luz. Essa superexposição era comum. Eram raras as fotografias nessa época, só mesmo pessoas de posse podiam ter o privilégio desse registro. Se Nhá Chica se arrumou toda, com vestido florido, para que Henrique Monat fizesse um registro fotográfico dela (1895), não podemos descartar essa outra fotografia apenas porque não sabemos a data em que foi feita ou por causa da cor da pele. Agora entendo frei Palazzolo quando fez questão de colocar tantas referências a respeito da foto. 
    Consta no livro outro documento importante recentemente encontrado pelo pesquisador irmão José Maciel C.Ss.R., o registro do casamento de Maria Joaquina (irmã de Nhá Chica) com João Garcia.
    Eu não coloquei no livro esses novos documentos e a fotografia para criar problemas; mas para lembrarmos que a beata Nhá Chica nos deixou um legado de fé e humildade. Recebi esses documentos em 2015 e fiquei em oração e discernimento para saber se deveria mostra-los em uma publicação. Ainda mais que haveria uma desconstrução de uma parte da história do primeiro livro biográfico que escrevi sobre a beata Nhá Chica, assim como aconteceu com as referentes obras de todos outros biógrafos. Optei pela humildade de mostrar esses novos documentos e de relembrar uma antiga fotografia que foi publicada em 1958. A perseguição que estou recebendo por causa de expor essas verdades está grande, mas maior é a Misericórdia de Deus.
    Meus avós quando vieram da Sardenha (Itália) foram trabalhar em Baependi, lá se conheceram e depois de casados, morando na Faisqueira (reduto de italianos perto de Pouso Alegre) voltaram para trabalhar em Cruzília e Caxambú, por gostarem de ficar perto de Baependi. Minha avó Josepha Patta Seda, me ensinou a rezar o terço da Nhá Chica, o qual oro há mais de 50 anos. E é esse o tempo, também, que frequento a casa de Nhá Chica e igreja Nossa Senhora da Conceição, bem antes de ser santuário, bem antes de ter tantas peregrinações a Baependi. Nesses anos todos eu compartilhei com parentes e amigos a vida de Nhá Chica e ensinei muitas pessoas a orarem o terço; dezenas delas conseguiram milagres, alguns desses milagres eu enviei para constar no processo de canonização de Francisca de Paula de Jesus. Muitos foram os milagres que a santinha de Baependi conseguiu para minha vida e de minha família, através da intercessão da Imaculada Conceição junto à Santíssima Trindade. por isso diariamente eu digo: Louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo. E agradeço a beata Nhá Chica pelos benefícios que consegue a todos que oram para ela.








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