E, por incrível que pareça, ao chegar em casa, havia um e-mail dele.
Repasso para vocês que são amantes da poesia.
FOLHAS AO VENTO
primeira viagem
'Já é tempo de dizer nossas poucas palavras, porque nossa alma amanhã abre velas ao vento'.
Giorgos Seféris
Um velho a beira rio
Menino de beira-mar, poucas imagens restaram por trás dos meus olhos tão belas, tão simbolicamente evocativas, como a de um veleiro que alça velas, levanta a âncora e sai, mar afora, em busca de um lugar qualquer longe, muito longe.
Viajei pouco em barcos assim, mas dediquei a eles alguns dos poemas de que mais gosto. Velas e, sobretudo o vento, o grande viajeiro do planeta Terra estão presentes em escritos meus de diferentes e distantes anos. Assim como dediquei outros poemas aos trens, barcos de terra adentro, quando comecei a dar as costas aos mares de minha infância e juventude, e aprendi a viajar em trens (mas não só neles) entre terras que vão de mar-afora a sertões-adentro.
Foi assim que me vi percorrendo o caminho oposto a dois mineiros de “terras adentro”, cujos escritos de prosa e poesia me acompanham da juventude marinha até a interior e interiorana “beira dos setenta anos”: João Guimarães Rosa e Carlos Drummond de Andrade. Os dois, já adultos e escritores, vieram dos fundos de Minas às beiras do mar de Copacabana, onde nasci. Quando dei conta de mim, casei com mulher goiana e tomei o rumo oposto. Não faz muito tempo cruzei com uma imagem de Drummond moldada em bronze, sentado em um dos bancos da calçada de beira-praia, olhando o mundo e o mar.
Mas aqui não são velas de barco ou de sonho. São folhas. Folhas escritas com alguma poesia, numeradas como em viagens, da primeira até qual? Escritas e soltas ao vento.
Assim é que a série que começa aqui dessas FOLHAS AO VENTO atira poemas ao mar, ao vento (mesmo que eletrônico) e à vida, a espera de que alguém – você, por exemplo - os encontre em alguma estradas ou esquina (mesmo da internet).
Encontre, leia ou simplesmente olhe, e faça a si mesmo(a) esta pergunta: será que no meio de tantas e tantas mensagens sobre o fim-do-mundo ou o começo-de-uma-nova-era, ainda há tempo e lugar para alguém escrever e enviar poesias sobre tudo e sobre coisa nenhuma?
Esta é uma primeira edição – esperemos que não a “única” – do FOLHAS AO VENTO.
Nelas meu desejo e minha idéia é escrever, re-escrever, traduzir e enviar a pessoas e ao vento algumas poesias. Poemas e nada mais. Sem nenhum outro texto. Sem qualquer comentário. Sem nada além de poesia.
Houve um tempo em que o dizer essencial de um povo e dos povos da Terra era falado ou escrito como poesia. Era dito ou lido em voz alto, em solo ou acompanhado de uma lira. Hoje aprendemos a nos dizer notícias e mensagens. Não raro notícias entremeadas de mensagens, ou mensagens entrecortadas de notícias.
Tudo isto é importante. Não raro, muito importante.
Mas ainda não é o essencial. O essencial é reaprendermos a voltar à palavra que não queira dizer nada, mas apenas enunciar ou lembrar um momento de beleza. Ou, sem pretender ensinar coisa alguma, traduzir profundos sentidos e quase inexprimíveis sentimentos.
Isto é a poesia!
Para esta primeira edição reuni poemas meus e de outros poetas. Quase sempre poetas que valem como mestres e que leio e releio sempre que posso voltar a eles. Há, portanto, poemas de outros poetas traduzidos livremente por mim.
As pequenas notas ao final indicam um velho costume meu. Ao ler poemas em seus livros, gosto de reescrevê-lo ora em algum espaço em branco da própria folha, ora em alguma folha em branco do livro. Não é raro que um poema que me maravilhe inspire em mim um outro. Nunca igual ao que acabei de ler. Não raro, sequer semelhante. Mas um poema de momento que não existiria se não fosse a leitura do outro.
Por isso em alguns casos me lembrei de indicar ao final o lugar onde o original foi escrito à mão (ainda há quem “escreva a mão”), a data e. quando lembrado, o lugar onde eu estava quando li. Algumas frases com interrogantes sugerem que quando revi o que escrevi eu já não lembrava mais todos os dados.
Eis porque a esta primeira coletânea dei o nome de: O VIZINHO POETA.
Esta primeira edição de FOLHAS AO VENTO foi preparada e revista em uma casa dentro da Mata Atlântica, diante do mar da praia da “Comunidade de Picinguaba”, no Litoral Norte de São Paulo. Eram os últimos quatro dias do ano de dois mil e nove. Ao longe alguns barcos de pescadores – vários a motor, raros a vela – saem da beira praia em direção ao mar.
Boa leitura! Boa viagem!
Carlos Rodrigues Brandão
Tenho uma doença
Que me rói
E não verei meu planeta
Convertido em rosa.
Trago em mim uma morte antecipada
E de meu país ao Sul
Não verei a hora da festa,
A alegria na rua.
Tenho uma tristeza que me amarga
E se me perguntarem porque
Direi que não,
E que o silêncio da lua
Fale por mim e julgue.
Pablo Neruda
Na página 17 de defeitos escolhidos e 2000
A Lua
Pensava que o poeta é aquele homem
que como o áureo Adão do Paraíso
impõe a cada coisa o seu preciso,
verdadeiro e não sabido nome.
Sei que a Lua ou a palavra Lua
é uma letra que foi criada para
a escritura misteriosa dessa rara
coisa que nós somos: numerosa e uma*
* coisa que somos: minha alma e a sua
(para que fique mais de acordo, em Português)
Jorge Luis Borges
Pousando
Inadvertidamente
como um colibri
que enfim pousa.
Meu poema escrito em alguma página de inéditos e dispersos,
de Ana Cristina César
Observaçõs de Rita Elisa Seda: Escolhi alguns poemas em FOLHAS AO VENTO e acrescentei imagens
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