PALAVRAS DE SEDA

Escrever passou a ser necessidade diária, como a respiração mantém o corpo vivo, o ato de escrever mantém minha alma solta para trafegar pelo mundo dos sonhos.
Ao me deixar levar pelas palavras visualizei novo horizonte e criei asas. Voei.
Em vinte anos escrevi dezenove livros em vários estilos: conto, crônica, poesia, romance e biografias.
Alguns de meus livros biográficos foram livremente inspirados para o cinema e TV. Ganharam prêmios.
O importante é continuar escrevendo, registrando histórias e estórias para que a memória não se perca no mundo digital.
De tanto escrever biografias resolvi deixar o registrado meu ensaio biográfico cujo viés é meu Anjo da Guarda. Pode parecer um pouco estranho, porém é bem real. Por isso, acesse também o meu blog "Os Anjos não envelhecem", eu disponibilizei meu livro na íntegra, onde constam fotografias e documentos. O livro físico está esgotado.
Viaje através das palavras. Bem-vindo (a).

















































































































segunda-feira, 7 de março de 2011

Idéias sobre o caminho


          Idéias sobre o caminho


Quando o tempo esgota toda possibilidade da caminhada precisamos mudar o rumo, pegar um atalho e ir para outro caminho. Existe um ponto crucial para se ver e se amar, algo determinante em capacidade de sentir.

Sentir com os ouvidos, sentir com a pele, sentir com as narinas, sentir com a boca. Com os olhos fechados, simplesmente, escutar o vento conversando com as pedras, lá na linha do horizonte. Assim é a sensação de quem escreve com a alma cheia de vivências, fragmentada de erros, batalhas, conquistas e vitórias. Construindo em palavras um castelo de realidades que alguns teimam em negar, por medo da verdade.

Nem todos os caminhos levam a Roma, ainda mais porque há pessoas que nem imaginam como é Roma e ainda existem aquelas que querem Roma só para elas. Essas encontram Roma no inferno de seus dias, na solidão do papel em branco, onde se embriagam de pontos e vírgulas que se repetem a cada estação da alma. No nada senhor e absoluto que lhes corrompeu a epopeia textual e se tornaram singulares na finitude do arroz com feijão.

Borgeanas.

Percorro o caminho e não tenho ideia se ele me leva a Roma ou não, só sei que desejo ver Roma. O desespero é dos outros, dos que olham só para apontar o dedo, dos que seguem porque apostaram no fracasso, sem ver que são imagens borgeanas de um labirinto de sentimentos que os destrói. Eu sigo em frente, sem olhar para trás, sem procurar rostos para confirmar minha caminhada. Afinal, caminho pelo simples fato de estar andando. Não sei ficar parada, nem mesmo para contemplar, isso eu faço enquanto caminho. Com amigos!

Procuro palavras novas para definir a caminhada, ando de olhos fechados para sentir o calor do sol e, quando a chuva vem a recebo de braços abertos, sem me importar com olhares, porque consigo me encharcar de centenas de gotas sem ficar molhada, da mesma forma com que consigo devorar dezenas de livros sem overdose de palavras. Para mim, as palavras são sementes que caem em terra fértil, apenas precisam de tempo para germinar, crescer, florir e dar frutos. A chuva é bênção!

Construí uma ponte estreita que une dois mundos. O da sabedoria e o da ignorância, quando passo muito tempo em terras sábias, fico ciente demais, para tudo tenho uma resposta e, quando começo a entrar no núcleo ideativo desse mundo onde o questionamento gera intolerância, eu volto. Sim... volto. Atravesso a ponte e vou ao mundo os burros, dos que nada sabem. Lugar onde fico mais calada, onde não há questionamentos, onde tudo parece perfeito porque não requer respostas, lugar simples, primário, fácil demais e, por isso, maravilhoso. Ver pelo simples fato do prazer da visão, escutar para sentir alegria no som, pegar uma flor e cheirá-la sem se preocupar em classificá-la no mundo científico, aliás, posso até mesmo dar um nome novo a essa flor, sem me sentir culpada, sem desclassificar. Afinal, isso na verdade é o sentido verdadeiro da razão. Daí encontro o meu ponto de equilíbrio. Minha ponte.

Há um tempo para tudo debaixo do céu, desde que você esteja, mesmo, debaixo desse maravilhoso céu azul de verão. Se estiver... caminhe!

Rita Elisa Seda  é fotógrafa, pesquisadora e cronista

Jornal: VIVER&
 05 de Março 2011
http://www.ovale.com.br/cmlink/o-vale/viver/ideias-sobre-o-caminho-1.79531

15 comentários:

Lu Saharov disse...

Bravo! Amiga! Esse texto me levou à profundas ponderações! Obrigada por isso! Beijos

Silvinh@ disse...

Ritelisa, seu texto me fez lembra; Eclesiastes: 3; 1-8.
"Tudo tem seu tempo. Há um momento oportuno para cada coisa debaixo do céu:
tempo de nascer e tempo de morrer;
tempo de plantar e tempo de arrancar o que se plantou,
tempo de matar e tempo de curar, tempo de destruir e tempo de construir,
tempo de chorar e tempo de rir;
tempo de lamentar e tempo de dançar, tempo de espalhar pedras e tempo de ajuntar,
tempo de abraçar e tempo de afastar-se dos abraços,
tempo de procurar e tempo de perder, tempo de guardar e tempo de jogar fora,
tempo de rasgar e tempo de costurar, tempo de calar e tempo de falar,
tempo de amor e tempo de ódio, tempo de guerra e tempo de paz".
O texto bíblico é muito claro.
Tudo indica que a vida não pode ser vivida e conduzida sem SABEDORIA, não a sabedoria humana; e sim a SABEDORIA QUE VEM DE DEUS.
Viver é plantar. É atitude de constante semeadura, de deixar cair na terra de nossa existência as mais diversas formas de sementes. Cada escolha, por menor que seja, é uma forma de semente que lançamos sobre o canteiro que somos.
Um dia,tudo o que agora silenciosamente plantamos, ou deixamos plantar em nós, será plantação que poderá ser vista de longe...
Trata-se de um caminho longo na vivência do amor, na prática da justiça, na assimilação de valores, no exercitar-se no gosto de ser bom, ser humano, e de encantar-se com o outro.
A sabedoria bíblica nos confirma isso quando nos diz que "debaixo do céu há um tempo para cada coisa!"
O caminho se faz caminhando...
Hoje Ritelisa, o seu futuro está sendo plantado.
Nas escolhas pelas quais você faz, nos amigos que você cultiva, nas leituras que você faz, nos valores que você abraça, nos caminhos que você escolhe, nos textos e livros que você escreve, enfim... Tudo que você faz, será determinante para a colheita futura.
O que não podemos perder de vista é que a vida não é real fora do cultivo. Sempre é tempo de lançar sementes... Sempre é tempo de recolher frutos. Tudo ao mesmo tempo.
Sementes de ontem, frutos de hoje; sementes de hoje, frutos de amanhã!

Beijos, forte e carinhoso abraço!!!

Silvinha

Rita Elisa Seda disse...

Ludmila, essas reflexões eu fiz ao assistir um maravilhoso filme, onde o protagonista é um escritor que, com medo do fracasso, parou de escrever no auge da fama. Muito significativo para nós que gostamos de escrever. Beijos, felicidades e a paz!

Rita Elisa Seda disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Rita Elisa Seda disse...

Silvinha, uma semente já traz em seu ventre o registro do que será. Da semente do abacate sempre teremos um abacateiro, da goiaba... uma goiabeira. No empírico dessa filosofia vemos a resposta direta do que plantamos... Mas... e o ser humano? Teremos uma mutação genética? Fomos criados pela semente do amor. Então... por que alguns são maus? O ceu é sempre os mesmo para os bons e os maus.Se chove na horta dos pobres, a mesma chuva cai no pomar dos ricos. Isso é graça Divina, que abençoa a todos por igual. Beijos, felicidades e a paz!

8 de março de 2011 05:34

Silvinh@ disse...

Ritelisa...
FOMOS CRIADOS POR AMOR E PARA O AMOR!!!
SOMOS IMAGEM E SEMELHANÇA DE DEUS.
"Teremos uma mutação genética?"
Acredito que não.
Esta decisão; ESTÁ EM NOSSAS MÃOS. É UMA BATALHA ESPIRITUAL.
O BEM E O MAL;
A TRAGÉDIA E A COMÉDIA;
A FELICIDADE E A INFELICIDADE;
A GUERRA E A PAZ; enfim...
Estamos no meio de uma grande batalha, e o ser humano é o alvo.
O homem é o alvo tanto de Deus quanto do inimigo, por isso devemos nos posicionar, saber de que lado estamos, do lado do bem, "Deus", ou do lado do mal "inimigo".
Não existe meio termo, não podemos estar em cima do muro, não podemos ser neutros.
Devemos nos vestir da armadura de Cristo, para resistir contra as ciladas do inimigo.
Que possamos estar SEMPRE SOBRE A PROTEÇÃO DE DEUS!!!

Beijos,

Silinha

Rita Elisa Seda disse...

Silvinha, eis a questão tão bem colocada por você: "Não existe meio termo, não podemos estar em cima do muro, não podemos ser neutros". Ou se é bom, ou se é mau. Uma árvore não dá dois tipos de frutos. Beijos, felicidades e a paz!

Cristina Lima disse...

Olá, Rita Elisa!

Primeiramente quero lhe dar os parabéns pelo Dia da Mulher! Já que é tão especial em tudo que escreve.

Não sei por que, mas ao ler esse seu post, veio à minha cabeça o filme "O som do coração". Um filme que nos ensina a sentir a natureza, a ouvi-la em todo e qualquer som.

Que bom se todos nós reservássemos um tempo para isso. Como bem citou Eclesiates "Há tempo para tudo..."

Um grande beijo
Chris

Malu Machado disse...

Olá Rita!

"Quando o tempo esgota toda possibilidade da caminhada precisamos mudar o rumo, pegar um atalho e ir para outro caminho."

Que texto gostoso. Verdadeiro. Toca a gente. Muito bom te ler, viu? E vou seguir seu conselho porque amargar tristeza por mais de 24 horas não é comigo. Também quero ver Roma. A minha Roma é enorme e recebe todas as pessoas de bom coração.

Inajá Martins de Almeida disse...

Rita minha querida amiga de belas horas, lindos caminhos...
Caminhantes somos. Caminhantes das estradas. Rumo ao vento, asas e águias remetem-nos às palavras e elas cortam caminhos, procuram atalhos, criam pontes, derrubam muros, dão-nos o ponto de equilíbrio. Se temos uma palavra já é o suficiente para que escrevamos um texto, a partir deste, transformá-lo em livro não nos será impossível, porque se através da Palavra - haja - fomos criados, também pela palavra podemos criar, recriar, idealizar, inventar, buscar nossa Roma e dela sair, uma vez que nossas asas desbravam horizontes inimagináveis. Amiga que bom ler este texto nesta manhã cinzenta – chove há mais de uma semana. Eu estou com o braço esquerdo imobilizado há dez dias, pois fraturei o úmero, depois de uma queda no quintal de casa. Escrevo apenas com a mão direita, mas escrevo. Significativo o texto bem fundamentado, porque nem todos os caminhos levam à Roma. Leonardo Boff escreve que todo ponto de vista é a vista de um ponto e cada qual lerá conforme forem seus olhos. Eu gosto sempre de dizer que é quando fechamos um livro, quando terminamos uma leitura, um novo livro acontece na mente do leitor. Não necessariamente um livro, mas um filme, um quadro, uma cena do cotidiano, fatos vários que o leitor aguçado encontra retalhos para tecer alinhavos – motivo que a levou a esta roma. Há tempo atrás assisti dois filmes sobre escritores: num havia o personagem carteiro, noutro um jogador de basebol, quando da janela o recluso escritor o observava. Seria algum destes? Bem... Obrigada por este gratificante momento, em que me percebo a escrever estas linhas.

Rita Elisa Seda disse...

Chris, o filme o Som do Coração é um dos que tenho em minha coleção de DVDs, já faz parte de minha vida, pois quando assistimos algo que nos sensibiliza, com bons pensamentos, devemos revê-lo de tempo em tempo. Parabéns a você, também, pelo Dia da Mulher. Somos mais que vencedoras, somos mulheres. Beijos, felicidades e a paz!

Rita Elisa Seda disse...

Malu querida, eu já mudei algumas vezes o meu caminho, porque precisava sobreviver, e essa sobrevivência não era do corpo, e sim, da alma. Minha Roma é a mesma que persigo há 50 anos. Qualquer dia vamos conversar sobre a Roma de todas nós?! Será um tema interessante. Beijos, felicidades e a paz!

Rita Elisa Seda disse...

Minha doce amiga Inajá, fico feliz que nos encontramos na estrada da literatura e nos tornamos amigas mesmo sem nos conhecer pessoalmente.
O vento é meu companheiro, amo estar na altura, sentindo o vento em meu rosto. Realmente as palavras têm certo poder para enaltecer ou destruir, precisamos desse ponto de equilíbrio, já estou pensando nisso. Vou lhe mandar um dos meus livros infantis onde o vento leva as palavras escritas e as espalha pelo reino de Atir.
A palavra é um dom de poucos. Você tem esse dom. Quero que me prometa que esse ano de 2011 será editado um livro seu com esses textos belíssimos onde transcende o amor pelas palavras.
Estou no Sul de Minas com minha neta, aqui choveu a semana toda.
Tome “Emulsão de Scott” (hehehheehe!...) sei que hoje tem até com sabor de laranja, isso ajuda a recuperar os ossos. Se cuide, mantenha o braço imobilizado. Lembre-se que Margaret Mitchell, por causa de uma queda e a imobilização de um fêmur, durante o tempo em que ficou engessada escreveu “E o vento levou” (gostou da dica?!).
Escrever tendo um dos braços engessados é superação e amor às palavras.
Acredito que cada um tem uma Roma dentro de si. Seus sonhos.
Eu assisto sempre aos filmes indicados por amigos. Quem me indicou o que assisti e me veio esse texto a respeito de Caminhar foi meu pai.
O filme que assisti é a respeito de um escritor que no auge da fama resolve parar de escrever porque perdeu sua esposa, algo triste demais para ele, chegou à conclusão que não saberia lidar com mais um fracasso, foi para uma aldeia no interior da Itália e lá ficou com a filha, cuidando de uma vinícola. O filme começa com um aprendiz de escritor que vai à procura desse mestre das palavras para aprender a escrever com ele. Muito lindo.
Chegando em casa vou à locadora ( o filme é antigo) e vejo o nome para você. Só sei que tem a palavra amor no título (hehehehe... não serve muito de dica de palavra chave).
Felicidades e a paz!

. disse...

Telisa,
que lindas são as suas considerações sobre o caminhar.
Da vontade de dizer: Vem pora aqui......deflorar plorestas virgens...pisar em lodaçais...
Que saudades ......
Ivon

Rita Elisa Seda disse...

Saudades mesmo... saudades de recitarmos juntos O Cântico Negro de José Régio, somos infalíveis nisso. Vem por aqui dizem alguns com olhos doces... hehehhe! Nem Maria Bethânia sabe declamar tão bem quanto nós! Beijos, felicidades e a paz!