PALAVRAS DE SEDA

Escrever passou a ser necessidade diária, como a respiração mantém o corpo vivo, o ato de escrever mantém minha alma solta para trafegar pelo mundo dos sonhos.
Ao me deixar levar pelas palavras visualizei novo horizonte e criei asas. Voei.
Em vinte anos escrevi dezenove livros em vários estilos: conto, crônica, poesia, romance e biografias.
Alguns de meus livros biográficos foram livremente inspirados para o cinema e TV. Ganharam prêmios.
O importante é continuar escrevendo, registrando histórias e estórias para que a memória não se perca no mundo digital.
De tanto escrever biografias resolvi deixar o registrado meu ensaio biográfico cujo viés é meu Anjo da Guarda. Pode parecer um pouco estranho, porém é bem real. Por isso, acesse também o meu blog "Os Anjos não envelhecem", eu disponibilizei meu livro na íntegra, onde constam fotografias e documentos. O livro físico está esgotado.
Viaje através das palavras. Bem-vindo (a).

















































































































segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Homenagem à escritora Eugênia Sereno






Para os que não conhecem a escritora Eugênia Sereno (Benedita Rezende Graciotti), pontuo algumas características de sua biografia e bibliografia:
- autora do livro “O Pássaro da Escuridão” - (Jabuti – 1966)
- romance denso, repleto de palavras arcaicas, caipiras, neologismos e modismos.
- para enaltecer palavras simples as escrevia com a primeira letra maiúscula.
- logo no começo do romance ao desenvolver uma cena,  Eugênia interpela o leitor ao preveni-lo de que a leitura à frente é terrível e pode causar mal estar, dando-lhe o direito de escolher: continuar a leitura ou não. Para maior esclarecimento disse que até mesmo as palavras que ela escreveu na folha do caderno ficaram assustadas,  fugiram da ponta do lápis e se esconderam embaixo na página.
-apreciadora da clássica mitologia greco/romana.
- conheceu Monteiro Lobato e fez uma menção à sobrancelha lobateana em seu livro.
- desenvolveu  TOC (Transtorno Obsessivo Compulsivo) durante mais de uma década, relacionado à limpeza, lavava as mãos até sangrarem.
- para não precisar pegar nos livros toda hora deixava-os abertos no chão do quarto, formando um mar de páginas abertas.
- os símbolos eugenianos são: a coruja, o sino, a lua e o vagalume.
- se colocou no romance “O Pássaro da Escuridão” como uma criança que gostava de brincadeiras de rua.

(setembro é um mês mágico na biografia de Eugênia Sereno)




Tentei avisar, chamei, gesticulei... na verdade fiz de tudo para que ela me visse e me entendesse. Parei a pontuação. Peguei o lápis.

Aquele lápis de Eugênia era minha única saída para manter o controle no texto. Além da escuridão que o mantinha em traços desunidos, em caligrafia doentia, havia o poder do corte em letras, como se fosse a tesoura das parcas. O fio da vida era conduzido em letras. Dessa maneira eu posso reiniciar a escrita do romance que está fugindo ao meu controle, correndo pelas alvas páginas de meu caderno, rompendo em desilusão o que, antes, tinha traços de união. É que nas entrelinhas a sombra fez-se presente e formou-se um enorme redemoinho de palavras desconexas que, unidas, tramam a morte da protagonista. Agora preciso cortar o vínculo mitológico entre Sereno e Hades.

Ainda bem que mantive guardado em minha Caixinha Emília o tão almejado lápis, aliás, um toco de lápis que precisa ser apontado para ganhar vida. Preciso do apontador, de uma faca, canivete... sei lá... preciso de algo cortante que renove o grafite da vida.

Achei o apontador, escondido no fundo da Caixinha. Apontei, segurei, escrevi. CORTEI!

Na solidão do papel as palavras seguem pela terra de Caronte, escorregam no rio Lates e caem no pé da página, descem pelo meu braço e jazem no chão de meu quarto que fica, a cada palavra caída, minuto a minuto... mais escuro, mais denso, mais calmo, mais sereno, mais silencioso, mais...

Preciso de menos, menos, menos, os mais me custam a visão, a intelectualidade é fator preponderante de menos, menos, menos. Quanto menos temos mais espaço haverá para armazenarmos nossas conquistas.

Olho o cemitério de letras que forra o chão de meu quarto. Sorrio!

Agora sei que vou encontrá-la neste último cenário do caos literário o qual me dei ao direito de ter. Abaixo-me e com os dedos firmes, em plena Escuridão, tateio as letras caídas. São como lâminas soltas. Cortam as pontas dos meus dedos. Sangro.

Não me importo. Só quero encontrar aquela que me tirou a inspiração. A que induziu anarquia ao dicionário, a que produziu mutação ao alfabeto, aquela que soprou vida às palavras difíceis, aquela que alimentou de esperança as letras maiúsculas. Ela que era Genial.
Era?!... ainda É!

Agora é a que se move e se esconde entre as lâminas/letras que cortam meus dedos.

Lavo minhas mãos.

Pego novamente o lápis.

Lavo minhas mãos.

Escrevo no céu escuro do quarto uma só palavra que ganha vida: VAGALUME*. 
Cada letra se acende em tom verde fluorescente que me remete à esperança. Sou novamente criança.

Enxugo minhas mãos.

Danço no quarto, canto "Terezina de Jesus" e pulo "Amarelinha", até que, no chão, as lâminas/letras fiquem submersas em meu sangue.

Morro, sim... no convívio dos que sabem protagonizar um romance.  Morro feliz!


 Rita Elisa Seda
cronista, poeta, biógrafa, fotógrafa e pesquisadora.
(esse texto me atropelou a noite, acordei, olhei pela janela, vagalumes brilhavam na escuridão do sítio Nhá Chica, tive de escrevê-lo)
* a palavra vagalume tem registro do crítico literário Osmar Pimentel que manteve a originalidade de Eugênia Sereno em assim denominar os pirilampos que luziam na Escuridão de O Pássaro. Dessa forma, mantenho a grafia eugeniana, como também foi feito no título do livro "Eugênia Sereno A Menina dos Vagalumes".



Quando uma amiga escreve de madrugada, inspirada no texto que escrevo, nos tornamos irmanadas em palavras. Como se alinhavássemos nossa alma com a linha forte da literatura. Obrigada Inajá por esse carinho:


Querida amiga
Um beijo
Inajá Martins de Almeida


11 comentários:

Silvinh@ disse...

Nossa, Ritelisa!!!!!!!!!!!!!! Que inspiração, minha amiga!!! Sensibilidade à flor da pele. Seu texto nos transporta, nos leva para seu quarto´para este contexto e nos faz vê-lo, detalhe a detalhe. Amor, romance, medo, insegurança, escuridão, incerteza, vida, dor, morte, alegria, lembranças, enfim...uma mistura de sentimentos, que se resume em apenas uma palavra: VAGALUME - lembrei que você me disse, que... pesquisndo sobre a obra de Eugênia Sereno, aprendeu que "PARA QUE OS VAGALUMES BRILHEM É NECESSÁARIO QUE EXISTA ESCURIDÃO!" Então não temamos a escuridão...Há sempre uma luz a nos guiar no fim do túnel!!! Ahhhhhhhhhhhh....amei esta frase: "Quanto menos temos mais espaço haverá para armazenarmos nossas conquistas." Maravilhosa!!! Parabéns pelo texto!!! Beijos, sua Sempre amiga...

Silvinha

Silvinh@ disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Rita Elisa Seda disse...

Silvinha, meu pensamento é este mesmo "quanto menos temos mais espaço haverá para armazenarmos nossa conquista", veja bem que os que possuem um milhão de amigos virtuais seja no twitter, facebook, email pessoal ou orkut, não conseguem responder e dar atenção a todos com regularidade, com tempo e carinho que merecem. Melhor ter um pequeno número de amigos sinceros e constantes, mesmo que virtuais.
Você é uma amiga para todos os dias. Beijos, felicidades e a paz!

Silvinh@ disse...

É isso memso, Ritelisa!!! Estou com você!!! O que vale a pena na vida, é a TER AMIGOS DE QUALIDADE E NÃO EM QUANTIDADE. AMIGOS: sinceros, verdadeiros, fieis, constantes...para todos os dias. Me sinto privilegiadíssima em ser considerada por você AMIGA PARA TODOS OS DIAS!!! Olhe que lindo este trecho do Pequeno Príncipe - Saint Exupéry: "Os homens não tem mais tempo de conhecer coisa alguma. Compram tudo prontinho nas lojas. Mas como não existem lojas de amigos, os homens não tem mais amigos. Se tu queres um amigo, cativa-me
-Que é preciso fazer?
-É preciso ser paciente_ Tu te sentarás primeiro um pouco longe de mim, assim, na relva. Eu te olharei com o canto do olho e tu não dirás nada. A linguagem é uma fonte de mal-entendidos. Mas, a cada dia, e sentarás mais perto
(...)
É preciso ter ritos.
-O que é um rito?
-É ma coisa muito esquecida também _ É o que faz com que um dia seja diferente de outros dias; uma hora, das outras. Ritelisa, minha amiga-irmã:
"Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas."

CONTE SEMPRE COMIGO, COM MINHA AMIZADE E MINHAS ORAÇÕES!

Sua SEMPRE Amiga-irmã...

Silvinha

Rita Elisa Seda disse...

Que bela frase atemporal, serve para todas as épocas, para todas as pessoas. Cativar é criar laços. Hoje, por exemplo, vou almoçar com duas amigas as quais há mais de 15 anos nos vemos sempre, almoçamos, vamos ao cinema, comemos pizza à noite ou apenas sentamos em volta de uma fogueira e conversamos muito. Coisas simples que nos uniram em laços afetivos. Algo tão sólido que até mesmo quando fui morar em Goiás elas iam me ver.
Beijos, felicidades e a paz!

Silvinh@ disse...

Que delícia, Ritelisa!!!
"Cativar é criar laçõs..."
Sabe, minha amiga, um amigo pode ser, mais que família, já que é uma empatia que consentimos. É uma cumplicidade que vai muito além dos laços sanguíneos. É a escolha que fazemos de quem vai nos acompanhar enquanto trilhamos nossa vida. Nos unimos pelos laços da alma, do coração, da oração. A amizade é um relacionamento humano que envolve um conhecimento mútuo, estima e afeição. Esse relacionamento nos enriquece e nos promove. Nos faz amadurecer. Ele leva a uma comunicação de sentimentos e convicções. De fato, quando cativamos e somos cativados, encontramos e escolhemos nossos amigos e, assim são criados os laços de amizade. É nos laços de amizade que encontramos um nó que nunca será instável, é a afinidade com quem você quer bem. Ritelisa, somos humanos e temos a necessidade de criar laços. Nós queremos ser livres e ao mesmo tempo prisioneiros, porque não podemos nem queremos deixar pra trás alguém que queremos bem. Acredito que se conseguirmos nos fazer presentes na solidão de alguém, na tristeza, na alegria, na dor, nos piores ou melhores momentos de alguém, podeos ter a certeza de que entre nós, existem laços indissolúveis de ternura, de amor e de amizade.

Podemos ser meio doidas, às vezes antissociais, esquisitas, correr até perder o fôlego com alguém que goste, gritar em um túnel até ficar sem voz, ser a pessoa mais estranha dos seres existentes na face da Terra. Mas todos têm alguém com quem falar, se apegar, de quem gostar, mesmo sem saber exatamente porque isso acontece. Ou mesmo ACREDITANO QUE FOI PROVIDÊNCIA DE DEUS... Sempre vai existir alguém que nos enche de ternura ou nos chama a atenção. Alguém que você pode contar seus segredos ou só alguém que você pode contar. Às vezes, é só alguém que a gente espera que esteja ali, naquele mesmo lugar, no facebook, no telefone, na sua caixa postal, mesmo que muitos dias, meses e até anos se passem. Concluinnndo...

"Em Eclesiático, 6, 14-17...lemos que: "Um amigo fiel é um poderoso refúgio, quem o descobriu, descobriu um tesouro. Um amigo fiel não tem preço, o seu valor é incalculável. Um amigo fiel é um remédio que cura, e os que temem ao Senhor o encontrarão. Aquele que teme ao Senhor faz amigos verdadeiros, pois tal como ele é, assim será o seu amigo."
POSSO AFIRMAR COM CERTEZA E LETRAS MAIÚSCULAS: TENHO AMIGAS VERDADEIRAS, COMO VOCÊ!!!
AGRADEÇO A DEUS E PEÇO A ELE QUE CONSERVE E ABENÇOE SEMPRE NOSSA AMIZADE!!!

Sua Sempre Amiga...

Silvinha

Inajá Martins de Almeida disse...

Rita amiga tão querida

Sim precisamos de tão poucas coisas.
Um lápis, um papel em branco, uma noite de insônia, uma bela inspiração.
Puxa... Não é tão pouco assim.
Mas... acima de tudo, precisamos desse amor, dessa paixão intensa pelas linhas.
Precisamos desse encontro sereno, dessa magia não sei o quê que nos envolve num emaranho de letras.
Precisamos de amigas sinceras, leais, ainda que distantes nos queiram bem.
Amigas que ao nos encontrar nos olham nos olhos, gargalham por dentro e por fora, apertam-nos ao peito bem apertado, nada nos cobram, apenas sentem.
Infelizmente não li o livro de Eugênia Sereno, mas realmente deve ser emocionante.
Teu texto é magistral, levou-me a minha infância quando da janela observava o céu escuro, repicado de estrelas, o vasto quintal, a garôa que cobria a cidade de São Paulo, nos idos 1950.
Olhávamos admirados os pirilampos com seus piscares e imaginávamos aonde aquela luzinha se escondia.
Infância querida, imaginação que retorna agora nas tuas linhas.
Que seu dia seja coroado das minhas belas expectativas correspondidas.

Um beijo desta amiga que tanto lhe ama.

Silvinh@ disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Rita Elisa Seda disse...

Querida Inajá, que saudade.
Escrever é mesmo bom demais. Temos sempre que tirar uma média entre o transpirar e o inspirar para colocarmos as palavras no papel, mesmo que seja na tela de um computador. Você tem o dom da escrita, minha amiga, tem o dom da música, também. Eugênia Sereno tinha esses dons. Sempre que leio O Pássaro da Escuridão é como se escutasse uma sinfonia retratando a simplicidade de uma pequena cidade incrustada na Mantiqueira. Eugênia soube compor em palavras a música cabocla que mora em todos sertanejos. Amo tudo isso. Beijos, felicidades e a paz!

Rita Elisa Seda disse...

Silvinha, correr em pleno museu Felícia Leirner e gritar no túnel são características marcantes de quem ama a vida!hehehehhe!...

Silvinh@ disse...

kkkkkkkkkkkkkkKKKKKKKKKKKKKKKKK COM CERTEZA, RITELISA, MINHA QUERIDA AMIGA!!!
"SÃO CARACTERÍSTICAS MARCANTES DE QUEM AMA A VIDA!!!" KKKKKKKKKKKKK

BEIJOS, FORTE E CARINHOSO ABRAÇO!!!

Sua Amiga-irmã...

Silvinha