A Festa da Fé!
Do alto da montanha, ajoelhado na relva da Capela de Nossa
Senhora das Graças, eu contemplava as montanhas verdes e a
represa do Chicão abertos sob o céu de um Maio entristecido.
Ali só havia o azul do céu e o verde das matas que se alongava e
se transformava no azulado do horizonte onde a vista se perdia
sem distinguir. Maio esquisito, com um sol que queima sem
aquecer. Neste alto não existe contaminação, não existe vírus,
não existe perigo. A paz irradia da natureza e coloca um gosto
traiçoeiro de saudade. Saudade que não mata, mas corrói. Era o
dia 13 de Maio, o dia em que Nossa Senhora apareceu na cova
da Iria para três pastorzinhos portugueses. Dia de Maria, sem
comemoração, sem festividade, sem culto. Embora a contemple
no coração, a saudade de uma relação direta me faz falta, como
fez falta no dia das Mães e como fará falta no dia de Santa Rita.
Tenho necessidade de ver, ouvir e tocar. Meus sentidos acham
falta dos estímulos luminosos e dos hinos de coroação que tanto
abrilhantavam o mês. Preciso ver a movimentação na Praça com
o corre corre dos romeiros, ouvir o bulício das conversas e
cumprimentos dos compadres e comadres que chegam para a
festa, e tocar, sentir, a imagem de nossa Santa Padroeira.
Este ano a festa de Santa Rita será muito diferente, muito triste,
sem a participação nas Missas e sem ver a santinha percorrer as
ruas num andor enfeitado de bonito. Não haverá cantos e
orações para embalar o desejo de ver e rezar. Essa tristeza, essa
solidão fica por conta do vírus que está a nos amedrontar. Somos
reféns de uma coisa insignificante, tão pequena que não
podemos ver sem a ajuda de aparelhos. Ele nos tirou a alegria da
festa e a manifestação de devoção à padroeira. Ele nos tirou o
alarido das barraquinhas, as Missas superlotadas e o encontro
com conhecidos e desconhecidos. Este ano é a Festa da Fé.
A fé leva minhas orações ao coração da Santa Protetora com a
mesma confiança dos anos anteriores. Minha fé suportará os
percalços dessa situação e me dará o consolo de saber que tudo
vai passar, que nada é para sempre.
Embora em casa, enclausurado como um monge medieval, farei
orações monásticas e com o mesmo entusiasmo e alegria do
Monsenhor José gritarei: “ VIVA SANTA RITA “.
IVON LUIZ PINTO
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