PALAVRAS DE SEDA

Escrever passou a ser necessidade diária, como a respiração mantém o corpo vivo, o ato de escrever mantém minha alma solta para trafegar pelo mundo dos sonhos.
Ao me deixar levar pelas palavras visualizei novo horizonte e criei asas. Voei.
Em vinte anos escrevi dezenove livros em vários estilos: conto, crônica, poesia, romance e biografias.
Alguns de meus livros biográficos foram livremente inspirados para o cinema e TV. Ganharam prêmios.
O importante é continuar escrevendo, registrando histórias e estórias para que a memória não se perca no mundo digital.
De tanto escrever biografias resolvi deixar o registrado meu ensaio biográfico cujo viés é meu Anjo da Guarda. Pode parecer um pouco estranho, porém é bem real. Por isso, acesse também o meu blog "Os Anjos não envelhecem", eu disponibilizei meu livro na íntegra, onde constam fotografias e documentos. O livro físico está esgotado.
Viaje através das palavras. Bem-vindo (a).

















































































































quarta-feira, 6 de maio de 2020

O CAMINHO DAS PEDRAS

Esta crônica foi escrita por João Batista Venâncio que está acompanhando a live oficina "O Poder das Palavras". Ele me deixou emocionada... adivinhe a razão... ele citou Anninha. 
 
 
O CAMINHO DAS PEDRAS !
 
 
Sempre gostei das palavras. De todas. Sem distinção.
Sim, mesmo aquelas desprezadas por expressar coisas futilmente classificadas como "ruins".
A flexibilidade que existe nas palavras me é fascinante e o digo sempre que necessário ou oportuno.
Sim. Gosto das palavras.
E as gosto ainda mais quando são usadas despretensiosamente e, através da sua magia, tenho a possibilidade de encontrar um mundo que é só meu. A partir daí, decido se compartilho ou não este “mundo”. Interessante que mesmo compartilhado, não há garantia de que minha visão seja essencialmente compreendida.
As palavras são pesadas ou leves, mansas ou bravas, curtas ou longas; tudo isso de acordo com quem as interpreta. E quem não achar isso fascinante, bom sujeito não é.
Acho grandiosa a capacidade de transformar em palavras o que vemos, imaginamos, sentimos, queremos, desgostamos, ou seja lá mais o que for. Grandiosa é a capacidade de usar a flexibilidade que as palavras possuem para dar a elas significados lúdicos que, enquanto durar o papel ou a memória (digital ou humana) em que estão escritas, serão verídicas. E esse jogo de ressignificar palavras me faz brincar onde quero, procurando apenas o que me agrada,
e tendo o que me permito ter.
Pois bem, porque não brincar por entre sílabas e parágrafos, sentado em metonímias, balançando em hipérboles e caminhando sobre palavras que somente eu posso fazer ter sentido?
E já que é para brincar de “palavrear”, que se abuse dos amigos pleonasmos e se traga à tona toda a redundância que carregamos vida afora.
Imagino que ao escrever, faço nada mais que caminhar por um caminho.
Redundantemente.
Ou ainda, que faço nada mais que entrar dentro do meu eu espiritual; o que é consequência de sair fora do meu eu físico. Redundantemente.
Adotei a ideia de escrever andando por um caminho de pedras desniveladas, de todas as formas e cores, tamanhos e pesos, gostos e cheiros. O caminho é largo e comprido. Na verdade, parece-me infinito. E ao olhar para trás, minhas vistas já não alcançam seu início.
E, sinceramente, as vezes penso que não enxergo porque não há. Essa brincadeira interminável de caminhar sobre pedras é um exercício contínuo que faço involuntariamente;
dando valores e pesos a elas. E não se trata de um percurso, mas de um ciclo.
Importante dizer que faço tal caminho descalço, porque bom mesmo é sentir como a pedra chamada “Paz” é lisinha e tem uma quentura perfeita. Sentir como a pedra chamada "Carinho” é grande e plana. Sentir como a pedra “Saudade” machuca o pé, mas que ao lado dela se pode pisar na pedra “Amor”. As duas estão sempre juntas; são dependentes. E essa bendita pedra Amor, tira com a mão (pedra têm mão?) o machucado inocente que a Saudade fez.
Gostoso também é deitar-me sobre a pedra Poesia, e nela sonhar um sonho (redundantemente) novo e da forma que me permito sonhar. Tão gostoso quanto deitar-me sobre a pedra Prosa, e nela ficar acordado, virando de um lado para outro até que encontre uma lembrança que seja suficientemente doce ou amarga para que então a prosa da Prosa seja ritmada e devorada.
Nesse caminho, há dias em que as pedras estão vorazes numa intensidade tão intensa (redundantemente) que elas se amontoam num encaixe perfeito, formando paredes que sobem o quanto eu permitir. Essas paredes são as tais “histórias” que escrevo.
Ou ainda as que não chego a passar para o papel. E eis aí os lugares onde se eternizam as palavras: no caminho das pedras e nas pedras do caminho.
Se neste escrito houvessem notas de rodapé, gostaria que houvesse uma nota de Anna, uma de Anninha e uma de Cora; as quais vira e mexe encontro no caminho de pedras que percorro ao escrever. Adoro vê-las juntando pedras com as mais variadas palavras, e
pulando feito pipocas vão fazendo paredes muito altas por sobre a quieta e harmoniosa pedra Poesia. Tão grande é ela, a Poesia, que sempre também acabo topando com Antônio. Tanto o
de Pádua, quanto o que chamamos de Castro Alves, quanto aquele tio-avô de mesmo nome.
Andam em meu caminho porque eu os chamei até ele. Ou eles é que me atraem a fazer (duplamente redundante) o ciclo interminável que os indivíduos pensam fazer individualmente?
Chamar o caminho de “Caminho das pedras” também é redundância. Só não dói aos ouvidos porque não percebemos que sem pedras não há caminho. Dada a nossa superficialidade, somos conformados em andar calçados, porque desta forma preservamos os pés das pedras pontiagudas. Infelizmente pagando o preço de não pisar nas que são aplainadas.
Ainda assim prefiro correr o risco de bater o dedo numa pedra farpada, que não experimentar caminhar sobre Metáforas, que são as pedras que se pode modelar com fantasia.
– Meu caminho é de pedra, como posso sonhar? – disse-me um outro que de sempre em sempre esbarro no caminho.
– Milton... É exatamente por isso que se sonha – respondi.
E assim saio do caminho: ansioso pela próxima vez e desejando estar também (sem saber) pelo caminho de pedras de alguém. Fazendo poesias, cantando canções antigas, ou
simplesmente gargalhando nas pedras que fazem cócegas; que se chamam Alegria e Realização.
Contudo, o caminho não sai de mim. Afinal, se eu ando por um caminho de pedras, as pedras também fazem, em meu corpo e em minha alma, um caminho. Pois não se faz nada só.
É este o “caminho das pedras”.
 
–João Batista Venâncio

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