Uma homenagem à poetisa Cora Coralina.
“Cânticos da Terra” é o título do capítulo 19 da II Parte do livro "Cora
Coralina Raízes de Aninha", que escrevi em parceria com Clóvis Carvalho
Britto. A grande parte desse capítulo escrevi em Andradina, ainda mais
quando visitei a chácara “Casinha Branca”, onde a poesia telúrica marcou
presença nos seus escritos, inclusive em 1944, seu lindo poema “Terra”
(até então inédito) foi publicado no jornal “O Andradina”. Aos 55 anos,
ela se denominava “Mulher Terra”. Nessa chácara Cora mantinha diversas
plantações, uma dela era a de milho. Sr. Ricardo Alexandre Roque, atual
proprietário, conheceu “dona Cora” (aliás na estrada de terra que chega à
chácara tem uma placa “Subida dona Cora”) e me disse que a poetisa
fazia inovações nas plantações, sempre respeitando o meio ambiente. Era
uma verdadeira ambientalista. Essa era a raiz de Cora Coralina. Raiz que
nasceu em Goiás e estendeu-se pelo estado de São Paulo. Raiz que agora
está nutrindo não só os brasileiros, mas os amantes da poesia
coralineana estão por todo planeta. Cora estendeu suas raízes.No sítio em Andradina eu ganhei algumas espigas de milho provenientes da mesma área onde a poetisa fazia sua plantação.
Nessa época eu decorei os poemas: “Oração do Milho” e “Poema
do Milho”. Inclusive os versos: “Tempo mudado. Revoo de saúva /
Trovão surdo, tropeiro. / Na vazante do brejo, no lameiro, / o
sapo-fole, o sapo-ferreiro, o sapo-cachorro / Acauã da madrugada /
marcando o tempo, chamando chuva” do livro "Poemas dos Becos de Goiás e Estórias
Mais (UFG, p.110).
E a chuva veio... e o cheiro da terra molhada relembra os versos de
Cora. A chuva se fez presente em poças d’água no meio do milharal. Foi
então que, segundo vários jornais anunciaram, os pesquisadores Felipe Silva de Andrade e Isabelle Aquemi
Haga, captaram a vocalização da nova espécie de anfíbio em Palmeiras de
Goiás, cidade distante cerca de 209 km de Goiás, terra natal de Cora
Coralina. No meio daquele milharal encontraram um pequeno sapo marrom
(entre 1,25cm e 1,53cm) entoando seu coaxar que pode ser ouvido à
distância. Esse pequenino anfíbio foi batizado cientificamente como
“Pseudopaludicola coracoralinae” pelo grupo de pesquisadores das
Universidades Estaduais de Campinas (Unicamp), Paulista (Unesp), no
campus Rio Claro, e da Universidade Federal de Uberlândia, financiado
pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp).
O artigo a respeito do novo anfíbio foi publicado no European Journal
of Taxonomy no dia 3 de julho de 2020, escrito por: Felipe Andrade e Isabela Haga,
Mariana Lúcio Lyra, Thiago Ribeiro de Carvalho, Célio Fernando Baptista
Haddad, Ariovaldo Antonio Giaretta e Luís Felipe Toledo.
Cora Coralina está no coaxar vibrante de um Pseudopaludicola coracoralinae
que, no meio do milharal, anuncia que há umidade para que as espigas
cresçam e gerem alimento para homens, animais e aves. Quem sabe se daqui
a alguns anos, com o avanço da ciência tecnológica possamos decodificar
esse coaxar e encontrar lindos poemas de amor à plantação.
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