LÁGRIMAS PELO SILÊNCIO
Dizem que a pessoa já nasce escritor, esse feeling é incutido em seu DNA, ou nasce com o dom da escrita ou corre atrás dela a vida toda. Fico pensando sobre morrer de literatura. O quanto isso pesa a cada escritor.
Hoje a literatura mundial está de luto, José Saramago faleceu. Morre o escritor que desbravou caminhos novos dentro da literatura portuguesa e, com isso, norteou uma geração mundial de poetas, romancistas, cronistas e contistas. A literatura está enlutada porque um livro da vida foi fechado, as parcas venceram, mas esse corte em fio de linha literária é doloroso para os amantes da literatura. Tudo bem, podemos até falar: ficam as obras, tantas que Saramago deixou em um vasto acervo mundial. O que me dói é saber que houve um finit, que a mão que tão bem escrevia travou, que o cérebro onde o pensamento comandava histórias está vazio, que a voz de sabedoria que em tantas palestras fomentou o amor à literatura calou-se.
Ainda bem que o ser humano que gerou letrinhas concatenadas em romance histórico suscita-nos à vida. Sim... cada livro de José Saramago promove uma nova vida no leitor, isso fica, para sempre, é atemporal. Mas, na temporalidade da pessoa humana, hoje é marcado seu fim de idéias. A imortalidade de suas histórias é uma âncora para os que navegam pelo oceano da literatura mundial, buscando novos mares, longínquas praias em ilhas distantes, onde a primeira lição é revestir-se de Humildade. Algo que foi latente em Saramago que ao ser destacado pela Editora Alfaguara, em 2005, como um ‘genial poeta’, ele simplesmente disse que se considerava ‘apenas um bom poeta’.
Quando em 1993, junto com sua esposa Pilar del Rio, tiveram de ausentar-se de Portugal e irem morar em Lanzarote na Espanha, Saramago não se intimidou, produziu mais ainda, escreveu romances, dramaturgias e poesias. Dali alguns anos, em 1995, recebeu o prêmio Camões de Literatura, pelo conjunto de suas obras e a publicação de ‘Ensaio sobre a Cegueira’.
Integrado à nova tecnologia, em seu blog O Caderno divulgava a literatura mundial, era um porto onde comandava um ‘espaço pessoal’ dentro de um mundo digital com infinita possibilidade literária.
Há pouco tempo, em novembro de 2009, ele se mostrou ativamente escritor de um romance a respeito da indústria do armamento e a ausência de greves neste setor, o seu mais recente livro... mesmo não publicado, está lá, em seus apontamentos literários. O corte das parcas foi em tempo de produção literária, aliás, todo tempo de Saramago foi nesse intuito. Tomara que os grandes escritores sintam a morte de Saramago como um alerta de que é preciso produzir obras globalizadas, um foco atual, que antes mesmo da era da informática, Saramago já agia assim.
Sei que não morre quem passa por esse mundo deixando um rastro de letras, mas fica a saudade de vê-lo em feiras literárias. A morte é uma palavra muito usada nos textos literários, mas quando Hades nos leva pelo rio Lethes até o Reino das Sombras, não há palavra verbalizada e nem óbulo que faça as três parcas jogarem as tesouras fora. É o fim de todos nós... menos das nossas palavras escritas!
Rita Elisa Seda
Jornalista, romancista, cronista, poeta, biógrafa e fotógrafa.
6 comentários:
a short but touching, to the point, note on saramago
O escritor consagrado, assim como Saramago, torna se eterno. A sua obra não morre. É um grande legado.
Jefhcardoso do http://jefhcardoso.blogspot.com
Verdade Jefh, esse é o ideal de todo escritor, tornar sua obra imortal.
Eu fiquei muito emocionada, Blimunda também.
Sônia Gabriel
Você é ótima, a essa hora Saramago está com todos seus personagens tramando outra história.
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