PALAVRAS DE SEDA

Escrever passou a ser necessidade diária, como a respiração mantém o corpo vivo, o ato de escrever mantém minha alma solta para trafegar pelo mundo dos sonhos.
Ao me deixar levar pelas palavras visualizei novo horizonte e criei asas. Voei.
Em vinte anos escrevi dezenove livros em vários estilos: conto, crônica, poesia, romance e biografias.
Alguns de meus livros biográficos foram livremente inspirados para o cinema e TV. Ganharam prêmios.
O importante é continuar escrevendo, registrando histórias e estórias para que a memória não se perca no mundo digital.
De tanto escrever biografias resolvi deixar o registrado meu ensaio biográfico cujo viés é meu Anjo da Guarda. Pode parecer um pouco estranho, porém é bem real. Por isso, acesse também o meu blog "Os Anjos não envelhecem", eu disponibilizei meu livro na íntegra, onde constam fotografias e documentos. O livro físico está esgotado.
Viaje através das palavras. Bem-vindo (a).

















































































































terça-feira, 7 de setembro de 2010

A PEDRA E O LAGO


Fui ao espetáculo de estréia de "A Pedra e o Lago" escrito por Ludmila Saharovsky, com interpretação textual de Marilda Carvalho e participação da bailarina Cristiane Azevedo.
O núcleo ideativo desse monólogo é o sentimento pela perda de um amor. A pulsão da memória descrita em registros emocionais torna-se patente na voz e expressões de Marilda. O processo gradativo de ausência leva o expectador ao âmago de uma dor imensa. Tanto que eu estava na última fileira de cadeiras do teatro lotado e, pude escutar até mesmo a respiração da atriz, tamanho silêncio comungado com a dor latente no texto, interpretado com paixão.
A dança conspira com as palavras. Há uma sinergia entre dançarina e atriz, tudo flui de maneira que o expectador se transporta para o cenário. Ao abraçar um paletó pendurado em um cabide, o vazio penetra perpetuando a morte. A integração do amor é invadida e fragmentada pela perda.
O fluxo poético traz a sinestesia da solidão. Deitar, gemer, olhar, sorrir, calar!... tudo conduz à nova perspectiva da vida: viver sem o amor. Uma realidade jamais ansiada, apenas imposta pelo destino. Como uma cíclica Perséfone, morrer significa – vida e, viver significa – morte. Continuar a viver é esquecer, é matar a memória, relembrar é morrer.
A mulher transpõe todas as etapas através do tempo e do espaço, diante de um fundo lago de água calma, como um espelho borgeano, como se fosse uma pedra à margem. Uma pedra que, a cada instante, cresce com os fragmentos das lembranças e, com isso, procura renovação e ... mergulha-se no lago.
O alto nível criador de Ludmila Saharovsky produz uma identificação mítica ao expectador, numa catarse de primitivos sentimentos, cada um expele suas verdades, expurga seus traumas e, no final, aceita-se como é.
É um registro de como tornar-se oblata das palavras.


Rita Elisa Seda
Cronista, poeta, biógrafa, fotógrafa e jornalista.

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