Dia 14 de
setembro, às 19h, na Saraiva
MegaStore, no Manauara Shopping, Manaus, foi o lançamento de ‘Poesia’, livro de Cyrino Júnior, um
evento que fez parte do projeto ‘Encontro com a palavra’.
‘Poesia’ reúne
poemas que Cyrino escreve há tempos. A publicação foi um incentivo de amigos.
A obra aborda questões regionais, amor, humor e até
política. “É uma mistura mesmo. Até porque a poesia é uma das formas
de ver o mundo. É conhecimento e não ciência. Tem plástica, sonoridade, melodia
da minha vivência e, como toda arte, abre as portas para o mundo”.
A recomendação que José Dantas Cyrino Júnior faz, nas primeiras páginas
de seu livro, chama a atenção: “Às pessoas sem rugas por falta de riso e às pessoas
com rugas por insuficiência do amor”.
“É uma forma de sugerir que a poesia também é humor,
alegria ou tristeza. Não tem que ser uma coisa romântica, lírica, precisa de
ironia, inclusive”.
A capa e as ilustrações de ‘Poesia’ foram feitas pela
artista plástica Bernadete Andrade, que faleceu em 2007.
“Foram as últimas telas que ela pintou. Quis homenageá-la,
pois a Berna não conseguiu expor essas obras em vida. Como era minha amiga,
sempre pedia meus poemas para ilustrar, mas isso não chegou a acontecer,
infelizmente. Antes de falecer, ela me deu um CD com suas telas e agora eu pedi
a autorização da família para ilustrar o meu livro, que aliás, é da Berna
também”.
No terreiro, uma vassoura...
e um menino nu, sentado no chão,
ao lado de um cão esquálido.
Nas paredes de madeira, um par de armador...
em uma delas, manchada por uma goteira,
uma antiga pintura de Nosso Senhor.
Sobre a mesa, chamas de uma lamparina
balançam fluidas como dançarinas do ventre
e lançam fuligens que tingem as palhas da sala.
No quarto, sozinha, se embala uma criança
e o ruído da rede avança manhoso até o quintal.
Na cozinha um jirau... sobre ele um terçado de aço,
uma panela queimada e canecos de lata areados.
Embaixo, um fogareiro... e restos de carvão.
De caibro a caibro, sob goteiras de luar,
uma rede se estica por cima de um velho fogão.
Embaixo da mesa, presa às pontas de um lençol,
uma trouxa de roupas a serem lavadas à mão...
E duas pedras de anil...
Ao lado, de esmalte branco, um trincado bacio...
No canto, um pote de barro.
Na beira do pote a ponta do púcaro...
No púcaro, uma jia.
No fundo da gaveta do surrado roupeiro,
os instrumentos de um sagrado ritual:
um caco de espelho, um toco de batom vermelho
e uma pocarina feita de uma fina
louça oriental.
Mungubas
Quando
plumas de mungubas
voam
ao longe,
ligam
à distância os amantes
e
podem a qualquer instante
reviver
uma grande saudade.
Por
isso, preste bem atenção:
se
numa noite quente qualquer de agosto,
uma
pluma de munguba pousar no seu rosto,
não
sopre esse corpo brando,
deixe-a
na face em descanso
ela
é um mensageiro zeloso
de
um saudoso beijo que lhe mando.
No
princípio era o verso,
e
o verso se fez frase
e
habilitou nossa voz,
e
ao inverso de ser carne,
fez-se
fala e cantoria.
No
princípio era o verso
que
fez nascer a poesia.
O
verso deu vida às palavras,
deu
cheiro, deu gosto e deu cor,
quando
estão em harmonia,
produzem
sinestesia,
o
orgasmo que a poesia
pede emprestado ao amor.
Canto
de Liberdade
Se prendes um passarinho
para aprender a cantar,
não lograrás por este caminho,
porque nenhum cantador cativo
é capaz de ensinar.
Abre as portas do cativeiro
e escuta a sonoridade
do canto libertador:
ninguém se educa prisioneiro,
só se educa nas asas da liberdade
e nas raízes do amor.
Epitáfio
Quando
eu deixar esta vida
não
me dêem de epitáfio
aquela
frase abjeta,
de
lugar-comum repetida:
“Aqui
jaz mais um poeta”.
Quando
eu deixar esta vida
-
perdoem-me pela imodéstia -
escrevam
de forma indelével
na
testa do meu cenotáfio
este
epitáfio fecundo:
“Sempre
que morre um poeta,
morre um pedaço do mundo”
Para adquirir o livro POESIA de José Dantas Cyrino Júnior entre em contato:
Rita Elisa Seda
Cronista, poeta, biógrafa, fotógrafa e pesquisadora.
2 comentários:
Rita querida amiga
Realmente lindos poemas.
José Dantas Cyrino Júnior pode ter a certeza de que embora o mundo se empobreça com a partida do poeta, sua obra jamais perece. Ela se eterniza.
Rica postagem.
Inajá, querida, o Cyrino é um poeta/maior que mora em Manaus.
Ele leu o livro Raízes de Aninha, escreveu um poema divino em homenagem à amizade entre Cora e Drummond, entrou em contato comigo e ficamos amigos.
Beijos, felicidades e a paz!
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