Se eu fosse escrever todas as aventuras que vivi no estado
de Goiás daria um livro de 900 páginas ou mais. Uma delas aconteceu na
proximidade de Aruanã, na divisa entre os estados de Goiás e Mato Grosso.
Nosso passatempo preferido era pescar. Todo fim de semana
Wilson e eu pegávamos nossos apetrechos para pescaria, um bom lanche, água à
vontade, uma sacola para trazer nosso jantar! Dia de pesca não termina na
pescaria, termina, sim, com um belo jantar, onde o prato principal é peixe
frito.
Nesse domingo fomos mais longe, quase na divisa do estado...
‘lugar mágico a gente acha assim na procura, horas e horas, nunca ter
pressa, até encontrar o lugar ideal...’ e o encontramos!... um riacho com águas
um pouco turvas por causa das chuvas de janeiro. Para nosso deleite havia
um pequeno puxadinho onde deixamos nosso lanche e uma parte dos
apetrechos para pescar.
Descemos o morro e ficamos à margem esquerda do riacho,
sentados em uma pedra, arrumamos as varas com molinetes, chumbadas, anzóis e
minhocas. Pronto, cada linhada jogada era um peixe que fisgávamos. Era um mandí
atrás do outro. O saquinho de plástico ficou cheio. Resolvemos levá-lo lá para
cima... para o puxadinho.
Subimos o morro, deixamos o saquinho de mandis pendurados em
uma coluna de madeira, bem lá em cima, longe dos cachorros que geralmente
rondam esses lugares. Voltamos para a beira do rio com um novo saquinho, vazio.
Ficamos até o fim da tarde jogando linhada e pescando... nada! Nada mesmo. Os
peixes nem beliscavam, nem ‘mamavam’ a isca, um silêncio total por parte dos
peixes e nosso.
Depois de mais de três horas tentando em vão, viramos as
costas e resolvemos ir embora, afinal tínhamos pelo menos dez mandis que
salvaram a pescaria. Direto para o puxadinho.
Ao chegarmos lá, nosso assombro foi encontrar o saco todo
rasgado sem algum mandi que fosse. Em uma das vigas de madeira, sossegadamente,
um papagaio comia um dos últimos mandis.
Sim... um papagaia carnívoro...
e ainda havia um enorme mandí jogado no chão, embaixo do papagaio. Corri
até minha bolsa, peguei a máquina fotográfica e cliquei várias vezes esse
‘danado’ devorador de peixes. Ele tinha um jeito todo especial de pegar o peixe
e aos poucos ia comendo até não sobrar mais nada. Uma ave de triturar peixe.
Pensei em pegar o ultimo peixe no chão, mas foi em vão,
demorei demais. Assim que me abaixei senti um deslocamento de ar perto de minha
orelha, era o papagaio passando e pegando o mandí no chão. Ainda tirei
uma fotografia do incrível papagaio com o enorme mandí no bico. A ave estava
tão repleta, tão gorda de tanto comer, que não saiu do lugar... mas, também,
não deixou o mandí cair e não comeu o peixe.
Saí dali com um novo alerta em minha mente: ‘em pescaria
deixe sempre o fruto da pesca à vista, perto dos olhos. Assim não haverá
surpresas’. Não posso dizer que foi uma surpresa desagradável. Fiquei feliz em
ver que nossos peixes serviram de alimento para uma ave tão rara. Afinal... não
é qualquer papagaio que tem essa destreza – ele é especial.
Rita Elisa Seda
crônica publicada no jornal Visão Vale - São José dos Campos - março de 2012
4 comentários:
Olá querida amiga
Que impressionante como a natureza nos promove surpresas. Imagino que você ficou atônita mesmo.
De um lado um pássaro de plumagem linda.
Aqui temos duas árvores de chorão e as maritacas vem aos bandos comer as sementes.
Maravilho-me com elas. O barulho que fazem. Motivo de fotos também.
Mas aí comer peixe, nunca vi não.
Não fossem as fotos, poderia até dizer ser história de pescador.
Já imaginou uma coisa dessa?
Parabéns querida pela mensagem, pelas fotos, pela postagem.
Obrigada pelo espaço que agora ocupo.
Um beijo e até mais.
Inspirou-me a escrever meus causos também.
Inajá, em primeiro lugar: FELIZ ANIVERSÁRIO! DEUS A ABENÇOE!
Fiquei, sim, atônita ao ver esse papagaio comendo todo meu jantar.
Me deu vontade de fazer picadinho verde de papagaio, mas, depois, olhando a carinha dele, os olhos esbugalhados e a barriga estufada de tanto que comeu... eu fiquei é rindo à toa!... afinal, não é todo dia que encontramos um papagaio tão especial.
Beijos, felicidades, saúde e paz!
Rita amiga
Estou vendo você a fazer um guisado verde.
Estou rindo a toa só de pensar.
Um dia desses meu gatinho trouxe um passarinho que caçara,para dentro de casa.
Enquanto saí por uns instantes, ele aproveitou e fez a festa.
O interessante é que me esperou.
Quando cheguei ele virava para lá e para cá aquele bichinho inerte, como a me dizer feliz - veja a façanha que fui capaz de fazer.
No primeiro instante fiquei triste, mas ao mesmo tempo tive vontade de rir do fato.
Penso que bicho pensa sim. Depois dessa cena, pena não ter a máquina para fotografar. O instante foi muito breve.
Tive de levar o pobre coitado morto para fora, deixando meu gato aos choros.
Interessante a natureza.
Cada qual a seu modo.
Um beijo
Interessante mesmo a natureza, ela tem seu equilíbrio. Seu gato iria comer esse papagaio em um instante...
Beijos.
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