PALAVRAS DE SEDA

Escrever passou a ser necessidade diária, como a respiração mantém o corpo vivo, o ato de escrever mantém minha alma solta para trafegar pelo mundo dos sonhos.
Ao me deixar levar pelas palavras visualizei novo horizonte e criei asas. Voei.
Em vinte anos escrevi dezenove livros em vários estilos: conto, crônica, poesia, romance e biografias.
Alguns de meus livros biográficos foram livremente inspirados para o cinema e TV. Ganharam prêmios.
O importante é continuar escrevendo, registrando histórias e estórias para que a memória não se perca no mundo digital.
De tanto escrever biografias resolvi deixar o registrado meu ensaio biográfico cujo viés é meu Anjo da Guarda. Pode parecer um pouco estranho, porém é bem real. Por isso, acesse também o meu blog "Os Anjos não envelhecem", eu disponibilizei meu livro na íntegra, onde constam fotografias e documentos. O livro físico está esgotado.
Viaje através das palavras. Bem-vindo (a).

















































































































sábado, 23 de maio de 2020

HOJE, NÃO! DEPOIS DE AMANHÃ, SIM! - IVON LUIZ PINTO



Hoje, Não! Depois de amanhã, Sim.

Amanhã, sim, ou melhor, depois de amanhã. Hoje não! Hoje não
quero.Quando o depois de amanhã se tornar hoje, então vou
querer. Ou talvez não.
Hoje estou cansado como o boi molenga que puxou o arado, ou
como o cachorro latindo na madrugada fria. Hoje não faço nada,
mas amanhã farei planos para depois de amanhã. Amanhã farei
planos para depois de amanhã plantar uma árvore, ou escrever
um soneto. Eu gosto de poesias, eu tenho vontade de escrever
poesias, mas hoje não. O teclado de meu computador olha para
mim e escreve: depois de amanhã.
Tenho vontade de pular e rir gargalhadas ocas e sem graças
como o palhaço do circo. Rir querendo chorar. Rir da própria
alma como se não tivesse alma. Mas hoje não!
Arrumo ferramentas para trabalhar, ferir a madeira e retirar dela
um pescador, ou uma Nossa Senhora Aparecida, ou um grão de
café. Hoje não, quem sabe depois de amanhã. Amanhã farei
planos.
Da estante cheia de livros a menina de Zusak me atrai, com a
mão cheia de livros, mas eu não a atendo, não quero ver a
história dos livros roubados, hoje não.
Fecho os olhos, mornamente, para sonhar, mas o sonho que vem
é de depois de amanhã. Hoje não sonho, e eu fico a olhar o teto
branco, o mesmo que verei, de novo, depois de amanhã.
O que tenho hoje é preguiça. Ela fica comigo agora e vou
encontrá-la de novo amanhã e depois de amanhã.
Fecho os olhos cansados em um corpo envelhecido como um
debilitado na espera. Hoje não, e amanhã também não. Depois
de amanhã... NÃO. Hoje, essa noite, apenas minha vontade louca
de olhar as estrelas mas as nuvens aparecem cobrindo-as todas,
me dizendo... hoje não.

IVON LUIZ PINTO

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