No dia dois de julho de 1948, Monteiro Lobato em entrevista para o jornalista Murilo, na rádio Record, disse: “... perdi tempo escrevendo para gente grande, que é uma coisa que não vale a pena”.
Ele havia sofrido um “espasmo vascular” no dia 21 de abril de 1948 e, dentre as complicações, ficou com a visão debilitada, não conseguia ler e muito menos escrever.
Dois meses depois, no dia 23 de junho, com muita dificuldade escreveu para seu eterno amigo Godofredo Rangel uma carta onde se desculpou que escrevia a lápis porque a pena lhe saía mal.
A tristeza dele foi por causa do tempo em que lhe foi privada a leitura, segredou ao amigo Rangel “E que falta ela me faz! A civilização me fez um ‘animal que lê’, como o porco é um animal que come – e os dois meses já sem leitura me vem deixando estranhamente faminto. Imagine Rabicó sem cascas de abóbora por 30 dias!” Lobato ficou tão triste por não poder ler e escrever que afirmou “... que venha a morte que será muito bem recebida”.
Na entrevista à rádio Record ele finalizou dizendo que se voltasse a viver de novo ia “entrar pelo mesmo caminho” porque tinha as compensações do convívio e amizade das crianças.
Dali a dois dias, no dia quatro de julho de 1948, em um frio domingo paulistano, o coração de Lobato parou de bater em seu peito... hoje, sabemos que o coração dele bate no compasso das palavras registradas em seus livros infantis.
Obrigada, Monteiro Lobato, por continuar existindo nos sorrisos e sonhos de seus leitores. Sou uma delas.
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